Os primeiros times de futebol de Ourinhos – 1920 (+ FOTOS)

 “O que nós procuramos nos clássicos e nas peladas é a poesia, insuspeita e

absoluta, há por todo o Brasil uma sede e uma fome de bola”.

                                                                                         Nelson Rodrigues   

José Luiz Martins

A frase do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues durante décadas já teve o signo da atemporalidade, da paixão do brasileiro pelo futebol, mas, essa paixão já foi mais grandiosa, arraigada e justificada. Hoje, tempo de retrocesso geral e terra arrasada; para muitos está um tanto difícil ufanar-se pelo esporte de origem bretão no outrora chamado do país do futebol.

Desde que Charles Miller no início do século XX trouxe o esporte para o Brasil, rapidamente a novidade foi se espalhando pelo país e começou cada vez mais a fazer parte do cotidiano de admiradores e praticantes, da mais opulenta metrópole até as pequenas cidades o futebol está presente envolvendo corações e mentes.

Em Ourinhos nos anos 1910 o esporte já era popular e despertava a paixão entre os moradores no pequeno município, não tardou para que os primeiros times de futebol da cidade surgissem. Em 1919 era fundado o Clube Atlético Ourinhense e um ano depois em 1920 o Esporte Clube Operário, as duas agremiações nasceram pelo empenho de moradores e famílias pioneiras da cidade.

Pelo Ourinhense membros das famílias Mori, Cury, Braz, Ferrari e, pelo Operário os Abujamra, Zanotto, e Perino entre outros foram os entusiastas que se organizaram para a adoção do futebol como lazer desportivo e associativo na cidade.

Com o passar dos anos o futebol se espalhou entre as diversas camadas sociais do município com o surgimento de dezenas de times. Mas, a trajetória do C.A.Ourinhense  e E.C.Operário marcou uma época singular na história do futebol em Ourinhos, num tempo em que ainda não havia televisão e o rádio reinava absoluto como meio de comunicação e entretenimento.

Os dois clubes protagonizaram momentos marcantes de extrema paixão pelo esporte, a pequena população da cidade se dividiu em duas esfuziantes torcidas que defendiam com unhas e dentes as duas equipes. Relatos de esportistas e moradores mais antigos revelam que o embate entre os times era tão ferrenho que extrapolava para fora do campo.

A rivalidade era intensa e em vésperas de jogo, e mesmo após as partidas, os adversários nem se olhavam, era mesmo uma rincha. Há relatos dando conta de que, até senhoras e senhoritas torcedoras empunhavam suas sombrinhas e se digladiavam para defender as cores dos times do coração.

Era no estádio nas ruas e na Praça Mello Peixoto, ponto de encontro dos cidadãos e onde de um lado estavam os simpatizantes do Ourinhense, e do outro, os do Operário.  Até os anos 50, o Operário foi a principal equipe a rivalizar com o C.A.O, e representou nos seus primeiros anos um antagonismo também no que se refere as diferenças socioeconômicas entre os simpatizantes das duas equipes.

Enquanto o Ourinhense representava a elite da cidade, das famílias mais abastadas que moravam acima da estação ferroviária, o Operário era o clube dos moradores abaixo da linha férrea, representante da classe trabalhadora com muitos atletas oriundos das empresas ferroviárias que absorvia a maior parte do mercado de trabalho.

Também, os dois clubes atravessaram as primeiras décadas de sua história como as mais prestigiadas equipes de futebol amador da região. Os dois times chegaram até as fileiras do futebol profissional, o E.C. Operário disputou em 1954 e 1958 a terceira divisão profissional. Entre os anos de 1961 a 1966, o Ourinhense participou de seis temporadas pela antiga 3ª divisão. Na temporada de 1967 o clube se inscreveu e desistiu no meio do caminho.

Fotografias de TertulianaDocs – Acervo e colorizadas digitalmente.