Pe. Julio Lancelotti critica campanha contra esmolas da Prefeitura de Ourinhos

Bem como em centenas de cidades no Brasil, em Ourinhos, a Prefeitura iniciou uma campanha contra a doação de dinheiro para pessoas em situação de vulnerabilidade social ou de rua. Assim, o município entrou para a lista de denúncias do Pe. Julio Lancelotti contra a “aporofobia”.

O Padre Julio é a principal figura da Pastoral do Povo de Rua de São Paulo e, há mais de 35 anos, trabalha em prol de auxiliar e garantir os direitos da população mais pobre e marginalizada. Nos últimos meses, ele vem denunciando iniciativas que prejudicam, principalmente, as pessoas em situação de rua, apontando essas ações como manifestações de “aporofobia”, termo que refere-se à fobia, discriminação e aversão aos pobres. 

A aporofobia pode vir de atitudes de medo ou de aversão a pessoas em situação de rua, de políticas públicas que obrigam-as a sair de um local sem dar-lhes condições sustentáveis de dignidade ou políticas que tentam “limpar” a presença dessas pessoas da cidades, como é o caso das passagens oferecidas pela Prefeitura de Ourinhos para os migrantes, criticada pelo Padre Julio, no post:

Outra forma de aporofobia é diminuir a gravidade das motivações que levam as pessoas a viverem sem moradia, sem alimentação, água tratada ou qualquer outro item básico para sobreviver: “vive na rua porque não quer trabalhar, prefere viver de esmola”.

A exemplo disso, na campanha da Prefeitura de Ourinhos, quando se pede para que não se dê esmolas, as aponta como um incentivo para que as pessoas fiquem nas ruas, ao invés de procurarem a ajuda do serviço público. “Dar esmolas é criar uma falsa esperança; Dê chance à dignidade “:

No entanto, é importante entender que o serviço público, apesar de, no Centro POP de Ourinhos, oferecer banho, comida e pernoite, não oferece mais do que isso. Durante o dia e para as outras necessidades e interesses básicos que a pessoa possa vir a ter, o serviço público não pode auxiliar. Para quem precisa, as esmolas acabam sendo uma alternativa, já que não se tem emprego e nem qualquer bem consumo mínimo. 

Pensar que a esmola é o que mantém as pessoas na rua livra os governos e a desigualdade social da culpa da situação que, cada vez, mais se agrava no Brasil. 

A propósito, as motivações para que as pessoas estejam nas ruas são diversificadas, cada um tem uma história que deve ser tratada individualmente, de acordo com as necessidades de cada um. Generalizar as razões da miséria é mais uma forma de expressão da aporofobia, pois, além de marginalizar, as pessoas não reconhecem a individualidade e desumanizam os mais pobres. 

Nada garante que deixar de ajudar uma pessoa leva-a a recorrer aos serviços públicos. O serviço no Centro POP limita-se ao banho, comida e pernoite. Mas e os direitos de dignidade? Soberania alimentar, tratamento médico contra doenças e dependências químicas, saneamento básico e moradia de forma plena? Quando serão discutidos?

As pessoas não precisam só de comida e banho, ninguém vive apenas com isso. Portanto, enquanto tudo o que é básico não for garantido e a desigualdade social abismante continuar, não há como o Poder Público pedir para que a população deixe de ajudar aos mais pobres com dinheiro. 

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