Professor Maurício Saliba e a UNIFIO: Pluralidade de pensamento na academia
Por Luís Antonio Nunes da Horta
Diretor e Coordenador Regional da Apeoesp
Nas últimas semanas, até dias atrás, como ourinhense e como cidadão que, ainda criança, acompanhou e conheceu a história, o trabalho e o esforço de figuras como o professor Carlos Nicolosi, Jorge Herkrath, Dr. Roald Corrêa, Norival Vieira da Silva, as “irmãzinhas do Colégio” e tantos outros abnegados que, ao longo de décadas, com todas as dificuldades e percalços conseguiram aprovar e fazer funcionar os primeiros cursos superiores na cidade e ajudaram a criar a Fundação Educacional Miguel Mofarrej – FEMM e, posteriormente, trabalhando com o Dr. Sydney Novelli na imobiliária em que meu pai era seu sócio, passei a ter contato com muitos professores e diretores da FEMM – Dr. Sydney foi um de seus diretores, assim como Péricles, Nicolosi, entre outros -, celebrei a divulgação que as FIO havia conseguido ser credenciada pelo MEC como Centro Universitário, último passo antes de ser reconhecida como Universidade.
As FIO, ao longo de seus quase 50 anos de existência, teve em seus mantenedores, da Fundação, respaldo e apoio para avançar e alcançar os objetivos que não eram apenas de seus diretores e professores, mas de toda a comunidade ourinhense que esperam dela uma educação de qualidade e compromisso com o desenvolvimento da cidade e da região. As FIO, embora sendo privada, pertence a uma instituição sem fins lucrativos, seus mantenedores não são remunerados e seus recursos financeiros devem ser destinados em investimentos nos próprios cursos, criação de novos e bolsas de estudo aos menos favorecidos da cidade e aos filhos dos funcionários e professores da instituição, ou seja, embora não sendo pública ela se obriga por seus estatutos a cumprir uma missão educacional e social com a cidade e, por isso, sempre a apoiamos e, como professor de ensino médio público, incentivamos nossos alunos a, não conseguindo ingressarem nas universidades públicas, buscarem uma vaga em seus cursos com as bolsas de estudos e financiamentos estudantis disponibilizada pela mesma.
Outra observação que fazíamos as FIO era o apoio e espaço que sempre foi dado aos professores da cidade e da região para integrarem seus quadros, incentivando-os ao aperfeiçoamento e a busca pela pós-graduação – Lato ou Stricto Sensu (mestrado e doutorado) e, assim, muitos integraram seus quadros. Independente de suas cores político-partidárias, pelo comprometimento com a educação e competência tiveram as portas da faculdade sempre abertas para desenvolverem suas missões.
Não fui aluno nela ou lá trabalhei. Escolhi fazer História, na hoje UENP, em Jacarezinho e lá me graduei, cursei pós-graduação e lecionei por algum tempo no departamento de História da faculdade e depois optei pela educação básica pública, onde permaneço até hoje. Mas, muitos colegas seguiram suas carreiras no ensino superior e, um deles, o professor Mauricio Saliba, de uma turma seguinte a minha, passou por todos os degraus da pós-graduação e acabou sendo referencia, na região, pelo brilhantismo acadêmico. Invejado, no bom sentido, pela competência e comprometimento que demonstra na formação de seus alunos e por nossa cidade e região, onde pelas mídias sociais e televisão fechada, também propaga os saberes das ciências humanas, levando seus conhecimentos e posicionamentos muito além dos muros da academia, fundamentalmente agora, em que vivemos tempos em que a sensatez e a ciência são confrontadas pela ignorância e a estupidez de alguns.
Assim, encontro-me perplexo com a informação de que o corpo diretivo das, agora, UNIFIO tenha dispensado o professor Saliba de seus quadros. Como seus alunos, também gostaria que uma explicação aceitável fosse dada pela direção e pelos mantenedores da Fundação. Não podemos aceitar que isso tenha ocorrido por falta de qualificação ou competência do professor, pois isso, seus alunos e resultados dos cursos em que leciona falam por ele. Agora, se essa demissão é resultado de perseguição politica ideológica de um indivíduo ou do quadro diretivo, aí é inaceitável. Não pode ser possível que agora que se consegue transformar as FIO em um Centro Universitário, onde a pluralidade do pensamento e pesquisas se intensificam, a pequenez de alguns acendam as fogueiras da inquisição, contaminados, talvez, ainda pela campanha das últimas eleições, partidarizando o Centro Universitário para perseguir e eliminar de seus quadros àqueles tidos como seus adversários. Se for isso é baixaria, indecência, fascismo e macula a história das UNIFIO e da Fundação Educacional Miguel Mofarrej.
Como ourinhense, espero que os mantenedores da Fundação intercedam nessa anomalia que, parece, não é a primeira, já que tivemos a informação de dispensa, sem motivações plausíveis ou profissionais, no início do semestre no curso de Psicologia que causaram repulsa de alunos, professores e na coletividade e, ainda, tivemos um caso de proibição de manifestações, no espaço acadêmico, pela democracia organizada pelo seu corpo discente feita de forma autoritária e arbitrária, segundo as publicações em redes sociais.
Defendemos que o Ensino Superior seja público, laico e gratuito com acesso disponível a todos os alunos que concluem a Educação Básica e queiram prosseguir em seus estudos. Sabemos que essa, ainda, não é a realidade no País, embora nas duas últimas décadas tenhamos assistido um grande crescimento nas vagas e a aprovação de leis de acesso mais abrangentes, a realidade é que ainda nos encontramos longe de oferecer ensino superior público para todos e, assim, a UNIFIO e a FEMM sempre tiveram o apoio dos professores da cidade e região pelas características elencadas e respeito, até hoje, pelos seus mestres e alunos.
Vinculados ou não a ela esperemos que a UNIFIO/FEMM continue a ser motivo de orgulho e apoio de todos os ourinhenses e não se transforme em uma associação medíocre de pensamento único. Que a diversidade, a democracia e a pluralidade de ideias, que são fundamentais para o desenvolvimento do pensamento humano, se façam presente na instituição que, com o apoio da comunidade, de seus professores e alunos a etapa que falta se concluirá de forma mais fácil e, em um futuro muito próximo, teremos sua elevação para Universidade. Assim, nosso total apoio e solidariedade ao professor Mauricio Saliba, à liberdade de cátedra e à diversidade do pensamento nos espaços acadêmicos.