Sueli diz que ex-prefeito de Santa Cruz, Mira era o “chefe” inicial, mas desvio teria envolvidos até no governo atual
Segundo Sueli de Fátima Feitosa, a ex-tesoureira da prefeitura que está presa na penitenciária de Pirajuí-SP, os desvios nos cofres públicos começaram por ordem do ex-secretário de Administração Ricardo Moral, que falava em nome do “chefe” Adilson Mira, o prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo na época. Ricardo Moral chegou a retirar dinheiro desviado por Sueli até mesmo no governo de Otacílio Assis. Quando a ex-tesoureira decidiu deixar de atender o ex-secretário dos governos tucanos, ela teria sido descoberta pelo atual presidente da Codesan, Cláudio Gimenez, que passou a ameaçá-la e exigir também uma retirada. Gimenez nega e anunciou que vai processar Sueli e o advogado dela.
O relato está num termo assinado por Sueli Feitosa e cujo documento foi reconhecido em cartório. Ele foi apresentado na tarde desta quarta-feira, 17, em Bauru, durante entrevista coletiva do advogado Luiz Henrique Mitsunaga no auditório do hotel Vitória Regia. Segundo o advogado, Sueli reconhece que é culpada pelos desvios, mas decidiu contar toda a história que contém detalhes do esquema, nomes e empresas que supostamente podem ter ligação com o crime. Uma delas é a Micromap, responsável pelo sistema de informatização da prefeitura há muitos anos. Segundo Sueli, um funcionário da empresa e um servidor da tesouraria faziam constantemente “ajustes” no programa de contabilidade, indicando que diferenças financeiras poderiam ser camufladas. Segundo relatou a ex-tesoureira, o sistema informatizado “não é confiável”.
Mitsunaga leu as 11 páginas do relato de Sueli e anunciou que estava desistindo da delação premiada. Em vez disso, o advogado resolveu expor publicamente a confissão escrita da ex-tesoureira, indicando que ela e o cunhado Adilson Gomes de Souza estariam sofrendo “constrangimento ilegal” por parte da Justiça por ainda permanecem presos. “Espero que agora investiguem os outros envolvidos”, disse Mitsunaga. O advogado disse que protocolou em Bauru cópia do relato de Sueli Feitosa, que deve chegar à Promotoria Pública de Santa Cruz do Rio Pardo amanhã.
Ameaças
O relato de Sueli impressiona. Ela teria sido colocada no cargo comissionado de tesoureira exatamente para servir a um esquema criminoso para desviar dinheiro público. Sueli contou que o ex-secretário de Administração Ricardo Moral, nomeado por Adilson Mira (PSDB) e mantido no governo de Maura Macieirinha (PSDB), era quem fazia a coleta do dinheiro. Moral dizia que “ele e o chefe precisavam de dinheiro” toda vez que pedia para Sueli fazer saques no caixa. O “chefe” era Adilson Mira. Eram várias retiradas mensais cujos valores, segundo disse o advogado Luiz Henrique Mitsunaga, eram superiores ao desviado pela própria Sueli. A ex-tesoureira garante que não desviava mais do que R$ 10 mil mensais para seu próprio bolso. Quantias maiores iam para Ricardo Moral e o “chefe” Adilson Mira, de acordo com Feitosa.
Segundo ela, tudo era feito à luz do dia. Ricardo Moral retirava envelopes na própria tesouraria, na frente de outros funcionários. Quando Mira deixou o governo e Maura Macieirinha assumiu a prefeitura, de acordo com Sueli, Moral passou a ter mais cuidado, recebendo os envelopes em locais escondidos da prefeitura ou nas imediações do prédio.
O surpreendente é que em janeiro de 2013, quando Otacílio assumiu o cargo, Ricardo Moral teria continuado a exigir dinheiro de Sueli, que a ex-tesoureira, sob ameaças, continuou desviando dos cofres públicos. O ex-secretário mora hoje em Curitiba e no final da tarde desta quarta-feira, 17, quando certamente acompanhava o noticiário da imprensa santa-cruzense, apagou sua página pessoal no Facebook.
Sueli disse que, em determinado momento, já com Otacílio na prefeitura, resolveu dar um basta às ameaças de Ricardo Moral e cessou os pagamentos. “Cansei”, disse. Entretanto, continuou desviando recursos para si própria. Foi, então, que, meses depois, recebeu um telefonema ameaçador de Cláudio Gimenez. Segundo contou a ex-tesoureira, o atual presidente da Codesan descobrira tudo e também ameaçou-a, exigindo dinheiro. Os saques variavam, segundo ela, entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Sueli disse que o dinheiro era entregue em envelopes a um motoboy contratado por Gimenez. O esquema persistiu até outubro do ano passado.
A situação teria fugido de controle e, segundo Sueli, começaram a acontecer desvios dentro dos próprios desvios. Segundo Mitsunaga, alguém descobriu como era feito o esquema e passou a fazer retiradas no momento em que o dinheiro era depositado na conta da prefeitura, já com uma parte desviado pela própria ex-tesoureira. Neste caso, Sueli não poderia denunciar ninguém, já que era ela quem retirava uma parte do dinheiro a ser depositado. Ou seja, era ladrão roubando ladrão…
“Bagunça”
No relato, Sueli Feitosa ainda cita que o setor de finanças da prefeitura sempre foi repleto de irregularidades. Ela, inclusive, autorizava a troca de cheques por dinheiro e citou vários servidores que recorriam ao caixa para este benefício. Entre eles, estaria o ex-secretário de Finanças Armando Cunha e o cunhado da própria ex-tesoureira, Adilson Gomes, que está preso na penitenciária de Cerqueira César.
“Quando houve a acareação entre Sueli e Armando, o ex-secretário xingou Sueli de mentirosa, mas em nenhum momento contou que também trocava cheques na tesouraria”, disse Mitsunaga.
Sueli também contou que havia forte influência de agentes políticos na Tesouraria Municipal, principalmente para “forçar” a liberação de pagamentos para empreiteiros, empresas e outros fornecedores. Ela citou que o vereador Lourival Heitor (DEM) seria o verdadeiro proprietário de duas empresas que não constam em suas declarações como candidato. Além disso, relatou que o vereador Milton de Lima (PR) fazia recebimentos no caixa em nome de terceiros.
Gimenez nega participação
e vai processar acusadores
O presidente da Codesan, Cláudio Gimenez, disse na tarde desta quarta-feira, por telefone, que nunca teve qualquer participação no esquema criminoso de desvio de dinheiro público. Ele anunciou que registrou queixa na polícia contra Sueli Feitosa, o advogado Luiz Henrique Mitsunaga e profissionais da imprensa por exporem seu nome na mídia. “Toda boa imprensa ouve primeiro a outra parte. Meu nome está sendo lançado na lama de forma indevida”, reclamou.
Segundo Gimenez, este tipo de denúncia sem provas vai manchar definitivamente seu nome. “A gente sabe que não recupera mais, mesmo provando a inocência mais tarde”, afirmou. O dirigente da Codesan disse que vai convocar uma entrevista coletiva para amanhã.
O jornal não conseguiu contato com o ex-prefeito Adilson Mira e o ex-secretário Ricardo Moral.
Fonte: Debate News