A arte de ser Theo de Barros
Por FERNANDO LICHTI BARROS
Recebeu o cheque e saiu em silêncio.
Aquilo era tudo o que a arrecadadora de direitos autorais tinha a dar a ele, o compositor capaz de transformar uma cena observada na feira da Rua Bolivar, em Copacabana, em “Menino das Laranjas”, que Elis Regina gravara em 1965.
Era um cheque de R$ 65 pela obra que incluía, entre outras preciosidades, a música escrita sobre versos de Geraldo Vandré e, trinta anos antes, cantada por Jair Rodrigues no Festival da Record. “Disparada” era o nome da canção.
Ex-violonista do Quarteto Novo, ex-produtor de discos da gravadora Odeon, da Eldorado e da Marcus Pereira, o artista agraciado com aqueles escassos patacos vinha de longa caminhada, percorrida desde que tocava baixo de três cordas na boate Lancaster, na Rua Augusta, lá pelo começo dos anos 60.
Pouco depois ele assinaria a direção musical do Teatro de Arena, e, entre 1972 e 80, criaria cerca de três mil jingles e trilhas para cinema e publicidade. Numa delas descreveu com orquestra e cordas o que viria a ser um clássico da propaganda – a decolagem de um avião da Vasp.
Deixou a área no final dos anos 90, quando a frieza da tecnologia passou a substituir cordas, percussão e sopros. Não, aquela estética definitivamente não era para ele.
– Se você botar um elefante tocando teclado, aceitam do mesmo jeito.
Distante da sofreguidão, da busca desesperada pelo sucesso, do vale-tudo imposto pelo tal mercado, em 2017 gravou o álbum “Tatanagüê”. Agora, com Adylson Godoy, Dino Galvão Bueno e os respectivos herdeiros musicais – Ricardo, Adriana e Anita -, reaparece com “Notas Brasileiras”.
Theo de Barros pratica a arte de continuar sendo ele mesmo.