Intervenção militar no Rio: o golpe se aprofunda

Por Gabriel Pozza*

O presidente ilegítimo Michel Temer (MDB) decretou nesta sexta-feira (16/02) intervenção federal (militar) na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. O general Walter Souza Braga Netto assume totais poderes no Estado, o qual pode se estender até o dia 31 de dezembro. Tal medida é muito preocupante, pois pode não só ampliar a crise na segurança pública do estado como aprofundar o golpe que vivemos.

Alegando conter o crime organizado no Rio de Janeiro, Temer não busca apenas “resolver” o problema de segurança. Aliás, “solução” questionável, já que diversas intervenções pontuais do Exército já foram feitas resultando sempre em fracassos. As intenções do governo com tal medida são diversas e acontece justamente num momento político de dificuldade, aonde não vem tendo apoio parlamentar suficiente para aprovação da reforma da Previdência¹.

Durante o carnaval o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, fez declarações públicas mostrando incapacidade em lidar com a crise de segurança pública. A repercussão nos meios de comunicação foi grande. O que não teve repercussão foi o crime organizado por seu partido (PMDB, hoje rebatizado de MDB) comandado por Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Jorge Picciani e aliados como Moreira Franco e o próprio Temer. O caos político e econômico que vem afetando todos os serviços públicos e consequentemente a população mais carente traz prejuízos bem maiores do que o tráfico as famílias cariocas.

Com este decreto, que ainda será votado pelo Congresso, o (des)governo tenta mexer de alguma forma nas disputas políticas em ano eleitoral. Esta jogada, além de dar mais tempo ao governo Temer para negociar a compra de votos dos parlamentares para aprovação da reforma da Previdência, também visa agradar uma pequena parcela da população brasileira, principalmente das classes mais altas e médias. Quem sabe assim sua popularidade suba 1%?

Rapidamente os grandes meios de comunicação colaboraram para sustentar a necessidade do decreto federal². A participação da rede Globo neste processo foi massiva ao abordar os acontecimentos relativos à violência com tremendo sensacionalismo.  Após o decreto, a Globo News tratou de convidar especialista cujas opiniões amparassem a decisão de intervenção federal militar. É bom lembrar que a Rede Globo, nasceu, cresceu e apoiou a Ditadura Militar no Brasil. A verdade é dura!

É claro que a violência urbana é um problema social, mas não se combate suas causas com mais violência. Militarizar um espaço cuja população não tem acesso a direitos básicos é um crime. Esta medida de intervenção militar afeta apenas as populações mais pobres (como sempre) agindo no sentido da criminalização da pobreza. Sabemos que o verdadeiro crime organizado não está nas periferias das grandes cidades, mas sim no Congresso Nacional (grande parte dos partidos que o compõem), no sistema judiciário e no sistema financeiro (bancos).

O golpe de estado que o Brasil vive se aprofunda com a participação ativa dos militares. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988 esta medida não tinha sido aplicada pelo poder executivo, motivo que leva muitas pessoas acharem que a violência no Rio de Janeiro vem aumentando. Mas isso não é verdade, pois a quantidade de crimes cometidos no ultimo ano é muito próxima de anos anteriores.

Outras possibilidades podem vir a ganhar força neste cenário temeroso, como a ampliação de intervenções federais militares em outros estados, o cancelamento das eleições, a criminalização dos movimentos sociais e etc. Recentemente o governo dos Estados Unidos sugeriu um golpe militar na Venezuela, escancarando assim o movimento mundial de supressão total da democracia e implementação do capitalismo totalitário³.

O Brasil continua retrocedendo em todos os aspectos, e com tal decreto, o golpe que vivemos tende a se aprofundar. Não foi atoa que o lema escolhido deste governo foi “ordem e progresso”, ou seja, “ordem para o povo, progresso pra burguesia” como diz a banda BNegão & Seletores de Frequência na música “Enxugando o Gelo”. A tal “ordem” exaltada demagogicamente pelo bandido Temer é a promoção de uma guerra cujo inimigo é o povo pobre, servindo também como uma cortina de fumaça para avançar na retirada de direitos sociais.

¹     O artigo 60° da Constituição Federal diz que a Constituição não pode ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Porém, Temer ressaltou que se preciso for irá suspender a intervenção no Rio para votação da reforma da Previdência.

²     https://jornalggn.com.br/noticia/editorial-de-o-globo-valoriza-intervencao-e-estimula-maior-tempo-de-decreto

³     https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-programa-secreto-do-capitalismo-totalitario/4/39236

 

* Gabriel Vidal Simõis Pozza, 30 anos, natural de Piraju, morador de Ourinhos, Corinthiano. Formado em Geografia pela Unesp Ourinhos e pós-graduado em “Ensino e Pesquisa na Ciência Geográfica” pela Unicentro/PR. Atualmente é professor de Geografia da rede estadual do Paraná (Jacarezinho)

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