A pandemia não acabou: família denuncia negligência na saúde pública em Ourinhos

Na última semana, uma família da Vila Perino em Ourinhos, contaminada pelo coronavírus, não conseguiu testagem e nem atendimento pelo SUS do município. Sem conseguir passar por avaliação ou acompanhamento médico, a família precisou pagar para fazer o exame que confirmou o contágio. 

Entenda o caso:

O Jornal Contratempo recebeu a denúncia da família formada por uma mulher de 46 anos, homem de 46, criança de 11 e idosa de 73. Segundo os ourinhenses, na segunda-feira, 27, a família foi ao “Postão” (Unidade Básica de Saúde do Centro) com sintomas de covid-19 e passaram pela triagem com uma enfermeira. De acordo com a denúncia, como os sintomas não estavam avançados, a enfermeira não os encaminhou para o médico, bem como não os conduziu para um teste para confirmar a contaminação.

No dia 27, ao terem o atendimento e a testagem impossibilitados no Postão, a família insistiu para que o teste fosse feito, pelo menos, na criança. Desta forma, foram orientados a irem à Unidade Pronto Atendimento (UPA) para passar por um pediatra e, se conseguissem um encaminhamento, o teste seria feito na filha. A família foi à UPA e, lá, foram orientados a voltar ao Postão, onde, em tese, é feito o teste e atendimento para suspeita de covid-19.

Sem atendimento ou resposta, a família saiu da UPA e recorreu a um teste em uma farmácia. Feito o teste, o resultado foi positivo. Com o resultado em mãos, eles voltaram ao Postão, mas foram novamente mandados para casa sem atendimento ou avaliação médica.

Nos postos de saúde em Ourinhos, segundo informações recolhidas na recepção do Postão (UBS Centro), o teste para covid-19 funciona da seguinte forma: o paciente chega com suspeita da doença; é encaminhado para uma triagem com um profissional da enfermagem; e, a depender da avaliação do enfermeiro, vai para uma consulta médica. Se dirigido ao médico, o profissional avalia o caso e, de acordo com a gravidade dos sintomas, solicita um exame para confirmar a contaminação por Covid-19.

Ou seja, casos de sintomas leves ou assintomáticos, muitas vezes, não são identificados — o que é grave individual e coletivamente, tendo em vista que atrasa a identificação e tratamento da doença e acarreta em um cenário de subnotificação. 

Ainda, de acordo com os entrevistados, depois de três dias em casa após o teste positivo, com o avanço dos sintomas de toda a família, foram novamente ao Postão e não conseguiram atendimento, passaram apenas pela triagem.

Na sexta-feira, 30, a idosa de 73 anos teve um episódio de mal estar, acompanhado de tosse e dificuldades respiratórias e foi levada à UPA pelo SAMU. Na UPA, ela ficou apenas em observação por 3 horas e, novamente, foi encaminhada para casa, sem que nenhum exame laboratorial ou de imagem fosse realizado para identificar uma possível infecção bacteriana (maior causa de mortalidade decorrente à Covid-19) — o que contraria as recomendações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.

Nesta quinta-feira, 7, a família permanece em casa e ainda sofre com os sintomas da doença.

Relembre:
Em abril, a jovem de 27 anos, Jessica Correia, morreu em Ourinhos ao ser encaminhada para casa mesmo com sintomas graves de covid-19. (Confira!)

Em julho, uma criança de 6 anos e a mãe foram encaminhadas para casa sem serem testadas e avaliadas por um médico. Posteriormente, confirmaram que estavam com Covid-19. (Confira!)

No dia 24 de setembro, o Hospital de Campanha de Enfrentamento contra a Covid-19, mantido pela Prefeitura, fechou seus leitos ao declarar a escassez de pacientes.  

O Jornal Contratempo entrou em contato com a Prefeitura, nesta quinta-feira, 7, os informou sobre a denúncia e solicitou uma resposta. Até a publicação desta matéria, não houve retorno.

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