Covid-19: a segunda onda e o mar de irresponsabilidade
Por Alexandre Padilha
O Brasil foi o único país no mundo que registrou por 14 semanas consecutivas mais de mil mortes diárias por covid-19. Por muito tempo, fomos o segundo país com mais casos registrados da doença. Após oito meses de pandemia, ocupamos agora o terceiro lugar, com mais de cinco milhões de casos confirmados.
Ainda em meio a maior tragédia humana que o país já enfrentou, estados brasileiros, incentivados pela postura irresponsável do governo Bolsonaro, flexibilizaram o isolamento social e reabriram um conjunto de atividades que geram contato e reduzem o distanciamento, ainda no meio da pandemia. Agora é nítida a rebordosa no estado de São Paulo: aumento de 18% das internações por covid-19.
Uma internação por covid-19 significa que a infecção foi contraída pelo menos sete dias antes da hospitalização, ou seja, revela o impacto da incidência de transmissão de 10 a 15 dias antes. Acredito que os principais efeitos para essa segunda onda estão relacionados a sensação do “liberou geral”, já que muitos casos estão sendo relatados com histórico recente de confraternizações como churrascos, festas e bares, ambientes com grande circulação do vírus, onde muitas vezes o protocolo de segurança não é feito de maneira adequada.
O outro fator é o retorno dos procedimentos de saúde que foram represados, deixando as pessoas mais expostas aos ambientes hospitalares, que são de grande risco. Como médico infectologista, tenho recebido muitos pedidos de avaliação sobre esses casos em especifico.
Enquanto o número de casos de covid-19 volta a crescer no país, Bolsonaro continua com sua postura irresponsável na condução da pandemia, mas agora é com o desenvolvimento de uma vacina para a doença onde ele declara descaradamente uma guerra xenofóbica ideológica contra uma que está se mostrando ser das mais eficazes.
A condução equivocada da Anvisa e do Ministério da Saúde na comunicação da suspensão dos testes da vacina chinesa Coronavac após o registro de óbito de um dos voluntários, mesmo sem confirmação da causa, foi questionada por mim e por outros parlamentares na Câmara dos Deputados. Convocamos ambos os órgãos para esclarecerem quais os motivos para o lapso de 10 dias para cobrar esclarecimentos sobre o caso. Depois foi confirmado que o óbito não estava relacionado ao teste da vacina.
O Brasil não aguenta mais atitudes irresponsáveis de governos que não defendem a vida e negam a ciência. A pandemia não terminou e ainda precisamos ficar atentos. A única vacina que ainda temos é a precaução, higienização das mãos, o isolamento social e o uso adequado de máscara.
*Alexandre Padilha é médico, professor universitário e deputado federal (PT-SP). Foi Ministro da Coordenação Política de Lula e da Saúde de Dilma e Secretário de Saúde na gestão Fernando Haddad na cidade de SP.