Feliz dia da mulher pra quem?

Por Letícia Neri

Uma onda de misoginia toma conta da internet. Discursos como: “o propósito do homem é maior que o propósito da mulher.””; “Homens constroem, mulheres se movem.”; “quer ser uma mulher de alto valor? Como você vai servir o seu homem?” e por aí vai os maiores absurdos. Estes sujeitos de discurso que se intitulam ‘red pills’ tem o pensamento que precisam combater o feminismo, pois o mesmo ameaça a classe masculina, segundo eles, os homens são superiores às mulheres e o feminismo está acabando com a feminilidade.
Misoginia é o discurso de ódio direcionado para as mulheres, e discurso de ódio nada mais é que qualquer discurso que implique violência, seja ela de ordem psicológica, física ou moral.
Dado esses conceitos é relevante dizer que essa misoginia não fere apenas a integridade da mulher, muitas vezes chega a nível de violência física. É como o que aconteceu no ato antidemocrático em 2022, onde nesse caso o antagonista era o fantasma do comunismo que ameaçava as famílias e os bons costumes, esse discurso ilógico levou à morte de muitos jovens que eram simpatizantes do PT, além de depredação do patrimônio público. O que queremos dizer, é que não está muito diferente: existe um antagonista, que nesse caso é o feminismo e existe algo ameaçado que nesse caso é a “masculinidade”. Isso também não para no discurso ilógico; segundo o G1: “Nos últimos 12 meses, 28,9% (18,6 milhões) das mulheres relataram ter sido vítimas de algum tipo de violência ou agressão, o maior percentual da série histórica. Isso significa que 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto no país.”
Também surgiu o caso de um dos líderes desse movimento, Thiago Schutz que ameaçou a atriz e roteirista Livia La Gatto. A atriz havia feito uma paródia sobre esses ‘red pills’ sem citar nomes, no entanto de madrugada houve uma mensagem de Thiago
“”Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso, processo ou bala. Você escolhe”
Diz ele que não quis dizer isso, entretanto, da forma que foi colocada, não há outra forma de se entender, visto que a ideologia que ele partilha de dominação e de agressividade não é difícil que chegue à morte.
Fazendo uma breve análise, não é muito difícil entender o que esses homens querem com isso, basta pensarmos o que é para esses sujeitos do discurso a “masculinidade” e a “feminilidade”. A masculinidade seria a dominação, a raiva, a agressividade, a independência e mais importante, ser servido, ao passo que feminilidade seria a passividade, a obediência, e a servidão.
Nós mulheres seguimos combatendo o machismo apenas por existirmos neste mundo patriarcal e por desejarmos direitos que os homens apenas por nascerem têm. E seguimos existindo apesar do medo, e se tem uma frase que cabe tão bem nesse contexto é da nossa querida Margaret Atwood, em que ela diz “Homens têm medo que as mulheres riam deles. Mulheres têm medo que os homens as matem”. Que todos nós tenhamos consciência o quanto o feminismo e o letramento de gênero é necessário no cenário atual, para que um dia felizmente possamos dizer: Feliz dia das mulheres, pois no momento, nossos dias estão cada vez mais cinzas e nossa vida de qualidade cada vez mais ameaçada.

*Letícia Neri é graduanda em letras do último ano, estuda na FCL – Unesp Assis, é escritora e social mídia do Jornal Contratempo.

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