A lista de Janot é um avanço para o Brasil

Uma lista de nomes é boa quando agrada todo mundo ou desagrada todo mundo.

A lista de Janot se enquadra na segunda categoria, e merece aplausos a despeito das compreensíveis imperfeições.

Sua maior virtude é tirar o caráter cínico, hipócrita, canalha do “combate” à corrupção que a direita predadora sempre utiliza para sabotar governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.

A direita sonhava com um Mensalão 2, com todos os holofotes e todas as acusações centradas no PT para a mídia fazer o trabalho sujo de sempre.

Com o caráter pluripartidário dos nomeados, Janot frustrou os planos da direita, e isso merece ser celebrado.

A esquerda gostaria – com justas razões — de ver Aécio na lista, da qual ele escapou por pouco. Mas a presença de Anastasia, cria de Aécio, vai forçar os tucanos a ser mais comedidos em suas detestáveis prédicas pseudomoralistas.

Até aqui, os líderes do PSDB encampavam imediatamente qualquer acusação contra petistas, por mais absurda.

Agora, até para preservar Anastasia, terão que ser mais cautelosos. Talvez reaprendam que as pessoas são inocentes enquanto a culpa não for provada, e sejam menos ávidos em endossar coisas como a Teoria do Domínio dos Fatos.

Essa teoria poderia complicar as coisas para Aécio, dada sua ligação com Anastasia.

Tirado o foco do PT e do PSDB, a sociedade lucra com o choque de realidade que se abateu sobre Eduardo Cunha.

Apoiado pela mídia, Cunha vinha agindo como um obstáculo não apenas ao governo – mas a qualquer tipo de pauta progressista.

Seu inevitável enfraquecimento pode desbloquear o caminho para uma reforma política decente que inclua a origem maior da corrupção – o financiamento privado das campanhas, um expediente pelo qual a plutocracia toma de assalto a democracia.

O horror do financiamento privado se observou nestes dias quando Cunha impediu uma CPI dos Planos de Saúde. Como informou o deputado Ivan Valente, Cunha foi bancado em sua campanha pela Bradesco Saúde.

A lista de Janot também tira o ímpeto de golpistas que sonhem com um impeachment pelo Congresso.

Deputados e senadores que poderiam cair em tentação diante do canto de sereia da mídia agora terão que se concentrar em sua defesa.

O que eles por acaso fizerem agora perderá qualquer valor por se caracterizar como uma desprezível vingança.

Eduardo Cunha, segundo o jornalista Lauro Jardim, estaria falando em impeachment.

Se for verdade, será apenas uma demonstração de seu desespero diante da possibilidade de sua até há pouco florescente carreira política terminar abruptamente em lágrimas.

Não é o Mensalão 2, graças a Janot – e não a Sérgio Moro, como sabemos todos.

É bom para o Brasil, que deve essa a Rodrigo Janot.

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