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A rua é nossa, vamos ao Congresso

A rua é nossa, vamos ao Congresso

Por Gabriel Pozza*

A História política do período republicano brasileiro (1889-2017) é marcada por repetidos golpes de Estado, cada qual com suas particularidades, unidos pelo seu caráter elitista, burguês. Um vício em práticas antidemocráticas que conservam o controle político em poucas mãos apesar de suas articulações internacionais. Os privilégios abundantes são concentrados em uma pequena nata que se utiliza, quando conveniente, de “reformas” que atendam aos seus interesses. E para alcançar seus objetivos, vale tudo. Inclusive o fascismo.

Segundo o estudo realizado pelo jornalista André Deak¹ fica evidente que os golpes de Estado, os autoritarismos, as usurpações do poder, durante muitos períodos do sistema político republicano brasileiro, não vem sendo a exceção e sim a regra. Apesar das possíveis polêmicas em relação aos períodos “democráticos”, o fato é que estamos vivendo mais um golpe de Estado.

Diversos setores da sociedade brasileira acreditaram ingenuamente, um ano atrás, que a queda de uma presidenta eleita foi resultado das vontades populares. Hoje fica cada vez mais evidente, pelo menos às pessoas minimamente críticas aos fatos, que o governo Temer é fruto de um golpe (jurídico-parlamentar-midiático). Golpe, aliás, resultante de uma conciliação de classes que não servia mais aos interesses do grande capital.

Para Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp), Temer representa um governo terceirizado, pois foi contratado pelo grande capital para “devastar os direitos sociais adquiridos, privatizar tudo que for possível e radicalizar o neoliberalismo no Brasil”². As oportunidades históricas de transformações ao longo dos governos do PT foram frustradas por um projeto político que autolimitou-se ao poder, sem profundas mudanças estruturais no País. Fato histórico imperdoável.

O plano de governo em andamento foi derrotado nas ultimas eleições. Mesmo assim, vem sendo colocado em prática em regime de urgência. Tudo isso sobre a tutela do minúsculo e parcial Supremo Tribunal Federal, de um Congresso Nacional recheado de parlamentares envolvidos em casos de corrupção e protegidos pela Justiça, e uma grande mídia (Rede Globo e companhia) comprometida com a alienação e desinformação dos acontecimentos.

Com os poucos fatores elencados acima somos levados a concluir que toda e qualquer proposta, inclusive as já aprovadas, vindas deste governo são ilegais, ilegítimas, e acima de tudo, imorais. As muitas mentiras sustentadas para justificar as “reformas” Trabalhista e Previdenciária vêm sendo veementemente rechaçadas pela população. Mesmo com a pressão popular nas ruas, fica cada vez mais claro que este governo não irá recuar. Governo não eleito ignora contrariedades e não se importa com níveis de popularidade. Parece que as generosas quantias em publicidade servem apenas para não deixar em 0% sua aceitação.

Para tentar amaciar os impactos devastadores das “reformas” o discurso adotado é compara-las, grotescamente, as reformas dos cômodos de uma casa, onde os transtornos são inevitáveis perante a necessidade. A naturalização destes transtornos assume dimensão insignificante frente aos retrocessos sociais que representam³. Definitivamente, essa comparação metafórica subestima a inteligência do povo brasileiro tentando convence-lo de que a retirada de direitos seja melhor do que a manutenção dos mesmos.

As grandes manifestações realizadas nas greves gerais do dia 15/03 e 28/04, convocadas por sindicatos e suas centrais sindicais, movimentos sociais organizados, entidades estudantis, juventude e setores populares, nos indica que a união da classe trabalhadora nas ruas é o caminho certo. Já a truculenta repressão policial, a qual é praticada ininterruptamente nas populações negras periféricas há séculos, assinala a presença do fascismo através de graves agressões e prisões políticas. Num país cujo passado recente foi (ou nunca deixou de ser?) marcado por uma sangrenta ditadura militar, a atuação de um órgão militar do Estado criado em plena Ditadura por decreto-lei em 1969 tem que ser questionada.

Diante desta conjuntura, urge como necessidade à classe trabalhadora ações de intensidade maior que impeçam os ataques e principalmente a manutenção deste governo que aí está. Para além das greves, atos e mobilizações, indispensáveis neste momento, acredito que só através de medidas radicalizadas como ocupações poderão impedir a devastação dos direitos sociais.

A ocupação massiva do Congresso Nacional/Brasília é uma das táticas contundentes pela luta de nenhum direito a menos e superação do governo Temer. Capacidade para isso existe e disposição também.  O autoritarismo e arrogância deste governo, o qual insiste em ignorar os recados populares dados nas ruas, exige de nós uma resposta prática à altura. Para isso, é fundamental que haja, além de ações táticas como ocupar o Congresso, uma reorganização da classe trabalhadora brasileira no sentido de pensar e discutir saídas para este momento crítico que vivemos.

As eleições burguesas de 2018 (caso ocorra) não pode ser o horizonte. Essa perspectiva é frágil. O hoje, o agora, o que podemos fazer neste momento é o que possibilitará transformações reais de interesse do povo e determinará o futuro do País. Portando, para concluir, deixo uma proposta para intensificar  a resistência frente a todos os retrocessos levados adiante pelo governo Temer. Para isso, parafraseio de forma adaptada uma das frases mais emblemáticas de Marx e Engels: “Trabalhadores de todos os Brasis, uni-vos e ocupai-vos o Congresso”.

TEMER JAMAIS!

¹ http://www.revistaforum.com.br/2016/04/01/no-brasil-a-tradicao-e-o-golpe/

 

² https://www.youtube.com/watch?v=aaG9rHkeDYw

 

³ https://www.youtube.com/watch?v=84BmOvwUWEw

https://www.youtube.com/watch?v=3eey-D8ejy4

https://www.youtube.com/watch?v=DrHXMWYy9mw

 

* Gabriel Vidal Simõis Pozza, 29 anos, natural de Piraju, morador de Ourinhos, Corinthiano. Formado em Geografia pela Unesp Ourinhos e pós-graduado em “Ensino e Pesquisa na Ciência Geográfica” pela Unicentro/PR. Atualmente é professor de Geografia da rede estadual do Paraná (Jacarezinho).

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