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Empresa que intermedeia a compra das vacinas pela Ummes não teria relação de negócios com a AstraZeneca; consórcio intermunicipal nega irregularidades

Empresa que intermedeia a compra das vacinas pela Ummes não teria relação de negócios com a AstraZeneca; consórcio intermunicipal nega irregularidades

AstraZeneca informou em nota para portal de notícias da região; já o proprietário da empresa afirma ter contrato sigiloso com o laboratório

 

Juliana Neves

 

A União dos Municípios da Média Sorocabana (UMMES) está com a empresa Hilal Grup como sua intermediadora na compra das vacinas AstraZeneca. Mas o portal de notícias Debate, localizado em Santa Cruz do Rio Pardo, divulgou na data de ontem, quinta-feira (22), que esta empresa tem a sede na Turquia e não possui legitimidade para a compra das vacinas. Afinal, a empresa nunca teve contato com fabricantes dos imunizantes.

A informação, segundo o Debate, é do próprio laboratório, enviada pela assessoria: “não há intermediários comercializando a vacina da AstraZeneca em nenhum lugar do mundo”. Com isso, a empresa confirma não ter relação com a empresa Hilal Grup e que as vendas das vacinas estão sendo feitas somente para governos federais e organizações internacionais que distribuem as vacinas para países de baixa renda.

O Debate conseguiu o contato com a Hilal Grup e constatou que a empresa possui vários endereços na cidade de Istambul, mas nenhum deles têm uma fachada específica do grupo empresarial. O proprietário é Recep que afirmou: “a Hilal tem vários acordos com fabricantes de vacinas” e citou Sinovac, AstraZeneca e Sputnik. Contou ainda ao portal de notícias que possui documentos que comprovam a negociação entre a empresa e os laboratórios, mas não podem ser compartilhados pelo motivo de sigilo de contrato.

Ou seja, não há comprovações dos trâmites entre a empresa e os laboratórios para compras de vacina e nem da existência da Hilal Group. O Debate também questionou Recep sobre a AstraZeneca ter explicado que não possui negociações com a empres; ele disse que “nós, como Grupo Hilal, recebemos cartas de solicitação em nome de nossa empresa referentes à compra de vacinas dos Ministérios da Saúde dos estados com os quais firmamos convênio. Isso mostra que somos competentes” e se negou a fornecer os documentos que, de acordo com ele, são provas da relação de negociação da Hilal Grup com a AstraZeneca.

Até o final da produção deste texto, não obtivemos contato com Marco Aurélio Oliveira Pinheiro (PSD), prefeito de São Pedro do Turvo e presidente da UMMES, nem por mensagem e nem ligação. E Salma Aparecida Meroto Beffa (MDB), prefeita de Ribeirão do Sul, nos respondeu com nota oficial da UMMES que está no fim desta matéria.

 

UMMES e a vacina

No dia 20 de abril, o prefeito de Ourinhos, Lucas Pocay (PSD), anunciou em sua página do Facebook que a “UMMES pode ser o primeiro consórcio de municípios a comprar a vacina no Brasil”, garantindo que os prefeitos da região já haviam recebido a confirmação da aquisição da compra dos imunizantes e o pré-contrato para ser assinado.

Post divulgado via página Lucas Pocay (Foto: Facebook Lucas Pocay)

“Após assinado o contrato, o prazo de entrega das vacinas é de 20 dias. A remessa de doses AstraZeneca será fornecida pela empresa árabe Hilal Group. A AstraZeneca já foi licenciada em mais de 70 países, em seis continentes, e possui uma dose de eficácia de 76% contra o coronavírus. Entre os maiores de 65 anos é de 85%. E 100% contra um quadro clínico grave”, segundo a divulgação.

Na quinta-feira (22) foi realizada uma entrevista coletiva no Teatro Municipal de Ourinhos, para esclarecimentos sobre a aquisição das vacinas contra o Covid-19 com a presença dos integrantes da UMMES.

Integrantes da Ummes durante coletiva de imprensa (Foto: Facebook Ummes)

“Foi uma reunião histórica, conseguimos trazer todo o processo de possibilidade da aquisição de vacinas, trouxemos todo o passo a passo, as condições e todas as dúvidas que geram em uma contratação atípica. […] E nós estamos avançando, chegando em um novo patamar para que possamos avançar com relação à aquisição de vacinas. Então, uma reunião muito importante que saímos fortalecidos e, acima de tudo, mostra a união do nosso consórcio em relação as políticas para fortalecimento e dos impactos que essa pandemia vem proporcionando e que possamos enfrentar e resolver”, disse o presidente da UMMES em vídeo após a coletiva.

 

Nota oficial UMMES

Diante das afirmações veiculadas, a UMMES respondeu negando qualquer irregularidade. Confira na íntegra a nota oficial sobre o Processo de Aquisição de Vacinas:

 

“Expedimos a presente nota, em resposta a notícia vinculada no dia 22 de abril de 2021, pelo Jornal Debate de Santa Cruz do Rio Pardo – SP, a qual temos a declarar o seguinte:

O Consórcio UMMES vem desde meados de março deste ano, após a edição de Leis e decisões jurídicas que possibilitaram Estados e Municípios adquirirem por meio de recursos próprios vacinas para imunização de pessoas contra a COVID19, buscando fornecedores e recebendo propostas para compra das vacinas;

Que é de conhecimento público a grande demanda e a demora para entrega dos laboratórios fabricantes de vacinas para fazer frente de modo mais rápido no combate a pandemia;

Que o UMMES recebeu proposta das empresas Hilal Grup e Akers Nanotechnology, uma reconhecida empresa de Istambul – Turquia, que tem um portfólio de negócios diversificado dentre eles: Construção Civil, Redes de Ensino, Hospitais, Pesquisa, Venda de Medicamentos, entre outros, e de outro lado uma empresa americana que possui relevantes trabalhos científicos na área da saúde, sendo inclusive listada na Bolsa de Nova York, e, portanto, capacitadas para fornecer os produtos aos quais se dispõe;

Que as empresas apresentaram esforços para promover a disponibilidade para venda de lote de 10 milhões doses de vacinas AstraZeneca produzidas na Índia;

Que foram apresentados documentos necessários para início da negociação para compra das vacinas que consiste nas seguintes etapas:

  1. Emissão de Ordem de Compra, estabelece condições a serem seguidas pelos vendedores Hilal Grup em conjunto a Akers Nanotechnology para promoverem junto a AstraZeneca, protocolo do pedido de compra das vacinas;
  2. Carta endereçada a Akers Nanotechnology para que possa oficialmente ser nomeada e como nosso representante autorizado para início de diálogo, negociação e finalização de preços, aquisição e envio para os centros designados das vacinas, em especial AstraZeneca;
  3. Confirmação do Pedido, o qual permite a formalização entre as partes do Contrato para Aquisição das Vacinas, remetido em conjunto a uma Carta de Instruções demonstrando a sequência do processo na aquisição dos imunizantes junto ao Laboratório;
  4. Emissão pelo UMMES de uma Carta Demonstrativa de Fundos, permitindo assim que a Hilal Grup em conjunto a Akers Nanotechnology possa inserir o pedido no sistema de produção de Vacinas;
  5. Processado o pedido, será emitida comunicado do laboratório ao UMMES das informações relativas a data de início de produção, quantidade, lotes, dimensões da carga e possível data de envio da vacinas;
  6. Confirmadas as informações acima, neste momento apenas, será emitida pelo Consórcio uma Carta de Crédito Internacional, que será regulada pela Instituição financeira emissora quanto ao cumprimento de todas as condições pactuadas, sendo liberados os recursos ao vendedor somente após da chegada da carga ao cliente, ou seja, não será realizado nenhum pagamento antecipado.

Que as empresas vendedoras não comunicaram ao Consórcio UMMES o contato de nenhum órgão de imprensa sobre a negociação em andamento entre as partes;

Que o Jornal expõe fotografias e declarações de suposta pessoa que se diz proprietária da empresa, e ainda que conversou com esta pessoa por meio de WhatsApp, também expondo fotos indicando o local de funcionamento e demais informações controversas a realidade, com certeza por meio de pesquisas inócuas pela internet, fatos os quais repudiamos e que serão solicitados as empresas vendedoras respostas oficiais quanto ao apontado, sendo os responsáveis pela edição em caso de promoção de notícias falsas, e a promoção de Fake News, as devidas medidas judiciais cabíveis.

Por fim, ressaltamos que o Consórcio UMMES tendo observado todos os requisitos legais para busca das vacinas, dando transparência em todos os seus atos, convidando os Órgãos de Controle, Ministério Público, Entidades de Classe e a Sociedade para juntos buscarmos a solução para que possamos enfrentar a COVID19, e assim diminuir a pressão dos nossos sistemas de saúde, combate aos óbitos oriundos desta doença e promover condições da retomada da economia em nossos municípios.”

 

Fontes: Portal Debate e nota oficial da UMMES

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