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REVISITANDO UM CLÁSSICO: “O GRANDE DITADOR” (1940) E A MENSAGEM DE CHAPLIN PARA 2022

REVISITANDO UM CLÁSSICO: “O GRANDE DITADOR” (1940) E A MENSAGEM DE CHAPLIN PARA 2022

REVISITANDO UM CLÁSSICO: “O GRANDE DITADOR” (1940) E A MENSAGEM DE CHAPLIN PARA 2022

Por Bruno Yashinishi

O que é um clássico? Geralmente, o termo se refere a obras literárias, musicais ou de outras expressões artísticas que tenham relevância histórica, antiguidade e atemporalidade.
Recordo-me de uma aula durante a graduação em História na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), em que o professor Dr. Maurício de Aquino definiu o clássico como “um modelo”, concepção esta que me fez repensar toda a profundidade desse conceito e a importância de cultivar e cultuar uma obra clássica, englobando todas as expressões culturais adjetivadas por este termo.
Nesse sentido, quando falamos sobre “clássicos do cinema” estamos nos referindo a obras cinematográficas que, além de marcarem profundamente o tempo em que foram realizadas, ganharam notoriedade ao longo dos anos e se fixaram enquanto referências artísticas para a posteridade. Esse é o caso do filme “O Grande Ditador”, de 1940, um dos maiores frutos da genialidade de Charlie Chaplin (1889-1977) e seu primeiro filme inteiramente falado, já que o artista insistia na comédia muda mesmo após o advento do cinema falado no final dos anos 1920.
Em “O Grande Ditador” Chaplin não encarna seu mais famoso personagem, o Carlitos (ou o Vagabundo), de filmes como “O Garoto” (1921) ou “Tempos Modernos” (1936), mas interpreta dois personagens: o barbeiro judeu que havia sido soldado da Tomânia (país fictício com referência à Alemanha) durante a Primeira Guerra e o ditador Heynkel (clara sátira de Hitler). Lançado em 1940, justamente durante a Segunda Guerra Mundial, o filme conseguiu captar e retratar o que se passava na Europa no período, realizando uma sátira que, apesar de cômica, traz uma ácida crítica ao nazismo e ao fascismo, demonstrando o quão absurdas foram as suas ideias e apontando as nefastas consequências de suas políticas de dominação e seleção social.
Não caberá aqui tecer uma resenha à altura do filme, já que “O Grande Ditador” é riquíssimo em conteúdos que podem suscitar diversas reflexões e discussões sobre antibelicismo, autoritarismo, segregação social, entre outras questões. No entanto, uma das cenas mais marcantes e importantes do filme está no discurso final, proferido pelo pobre barbeiro judeu se passando pelo ditador Heynkel. Esse discurso vai além da trama do filme. Tornou-se uma mensagem para o mundo naquele contexto de guerra e barbárie. Muito além de moralismo, o texto escrito por Chaplin e pronunciado por ele através da personagem apresenta um profundo humanismo.
Mas será que algo falado em um filme há mais de 80 anos ainda nos diz alguma coisa? Como em todo clássico, sim. Em 2022, ano em que morosamente estamos saindo da situação crítica causada pela pandemia da Covid-19, mas ainda convivendo e enfrentando suas sequelas, teremos eleições para os cargos federais e estaduais dos poderes Legislativo e Executivo. Já é evidente a polarização presente no cenário político do país, somada a discursos de ódio proferidos por ambos os lados. Situação que só vai se agravar, ainda mais por vivermos realmente uma ameaça à estabilidade das instituições e à já alanceada democracia brasileira.
O discurso final de “O Grande Ditador” é, na íntegra, uma mensagem profunda para os dias atuais. Porém, transcrevo aqui apenas uma parte e espero fornecer aos leitores a missiva de Chaplin para 2022:
“Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela… de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo… um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!”
Para acessar ao discurso completo consultar: https://cantodosclassicos.com/o-discurso-final-do-filme-o-grande-ditador-1940/.

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