População ourinhense sofre com falta de água constante em todas as regiões da cidade

Nomeações políticas podem ter agravado abastecimento de água em Ourinhos

Um grave problema que teve início no segundo semestre do ano passado e atingiu seu ápice nos primeiros dias de 2019, tem tirado a paz e tranquilidade de todos os ourinhenses. A falta de água constante em todas as regiões da cidade tem deixado milhares de pessoas em pleno verão num calor de mais de 34 graus em média, sem ter sequer como tomar banho ou para outras tarefas domésticas cotidianas, como lavar roupas ou até mesmo o preparo das refeições.
Desde então, o assunto tem tomado conta das redes sociais, e as reclamações dos munícipes têm se multiplicado, todas elas relatando que jamais passaram por tal problema, já que segundo eles, passam praticamente o dia todo sem água que só retorna de madrugada, com pouca pressão e logo acaba de novo nas primeiras horas da manhã.
O problema até então inédito em Ourinhos passou a ter várias versões e possíveis justificativas, desde possíveis equívocos nas ações junto as redes de manutenção e abastecimento de água da cidade, provocadas pela falta de conhecimento técnico dos encarregados nomeados por indicação política, ou até mesmo numa suposta ‘sabotagem’ que poderia estar acontecendo por parte de alguns funcionários do setor operacional, fato que ganhou mais força após vazamento de um áudio de uma gravação feita durante reunião interna da SAE, entre funcionários e encarregados, em que é citada a palavra sabotagem, e levantada a hipótese que poderia estar se forjando um colapso no sistema de abastecimento de água da cidade a fim de se realizar a privatização do serviço.
Com intuito de esclarecer o que realmente está acontecendo e quais medidas devem ser tomadas para regularização do abastecimento de água na cidade, a reportagem do Contratempo, entrou em contato com a secretaria de Comunicação da Prefeitura na última quarta-feira, 16, oportunidade em que encaminhou e-mail para que o superintendente da SAE Marcelo Simoni Pires, pudesse explicar à população quais são os problemas, previsão de normalização e principalmente, para confirmar ou desmentir a possibilidade de privatização da autarquia, um dos maiores receios da população, uma vez que uma empresa privada poderia reajustar livremente as tarifas de água e esgoto, além de reduzir o quadro de funcionários, o que poderia piorar ainda mais a situação já deficitária do serviço de abastecimento de água.
Até o fechamento desta matéria, não houve retorno da secretaria de Comunicação, tão pouco da Superintendência de Água e Esgoto. De qualquer forma, o espaço do Contratempo estará aberto para que a qualquer momento, uma resposta possa ser dada à população.

Cargos Comissionados sem formação técnica
Um dos pontos levantados por funcionários de carreira da SAE é que o problema da falta de água na cidade e da má gestão dos serviços realizados pela empresa seria a falta de capacitação técnica dos principais cargos da Autarquia, todos com indicação política.
O primeiro caso sintomático foi do ex-superintendente Luís Augusto Nogueira Perino, que é graduado em Zootecnia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e fez Mestrado em Gestão e Auditoria em Me

Luís Perino então superintendente da SAE

io Ambiente, com concentração em Educação Ambiental, e que havia sido secretário de Desenvolvimento Econômico na gestão do ex-prefeito Toshio Misato e posteriormente exerceu a função de analista responsável pelo desenvolvimento das atividades de educação ambiental na Duke Energy Brasil, sem no entanto ter qualquer experiência anterior na área de Saneamento Básico. Neste caso vale lembrar que Perino foi candidato a vereador nas eleições de 2016, sem conseguir ser eleito e chegou a ser cogitado para ocupar a secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, cuja Pasta trata-se de uma fusão entre as secretarias do Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico. Porém, o contemplado na época acabou sendo Júlio Gurgel, mais um dos secretários “importados” pelo prefeito Lucas Pocay em sua gestão.

O fato de não ser da área específica e, portanto, ter sido indicado por uma questão meramente política, acabou sendo fatal para a gestão de Perino à frente da SAE, e após apenas cinco meses comandando a Autarquia, acabou pedindo exoneração em junho de 2017, em uma saída um tanto conturbada e mal explicada, já que inicialmente pediu afastamento de 30 dias alegando questões de saúde, no entanto, acabou sendo substituído por Marcelo Simoni Pires, em mais um caso exemplar de ‘importação’ de cargo de confiança, o que talvez ilustre a falta de quadro técnico entre os principais membros do grupo político do prefeito Lucas Pocay, além do desprestígio dos servidores de carreira da SAE, vários deles com experiência de mais de 20 anos na área de Saneamento Básico da Autarquia.

A reportagem do Contratempo fez contato com alguns funcionários da SAE, que sob condição de anonimato, já que temem sofrer represálias, revelaram alguns casos específicos de cargos comissionados sem formação técnica e alguns deles, inclusive, teriam relação de parentesco com a secretária de Saúde Cássia Palhas, fato que configuraria nepotismo.
Um destes casos é de Silvio de Lourenço Camargo que seria primo de Cássia Borges e que ocupava cargo de Oficial de Rede de Água, e ocupa atualmente o cargo de Diretor de Operações.
Outro caso de possível nepotismo, é de Erison Borges, irmão de Cássia Palhas que apesar de ser porteiro como cargo de origem, ocuparia de fato a função de chefia e segundo denúncias, receberia adicional do salário por meio de horas extras e comissões ‘por fora’.
Outro nome citado de cargo comissionado com desvio de função seria o de Hélio Aparecido Serafim, que tem como cargo de origem, técnico em Química, mas que ocuparia cargo em comissão, apesar de continuar a constar na folha de pagamento no cargo de origem.
Os três são apontados como indicação política do vereador Abel Fiel.
Por fim, outro caso ilustre de falta de formação técnica para ocupar um cargo de confiança da área estratégica da SAE é o de Jhenifer Cristiane Macedo

Jhenifer Cristiane Macedo – Assessor de Gabinete da SAE

que ocupou no início da gestão, o cargo de Chefe de Rede de Água e posteriormente

foi nomeada para Assessora de Gabinete, onde permanece até hoje. Segundo informações obtidas pela reportagem do Contratempo, Jhenifer foi indicada por ser filha de um importante cabo eleitoral do grupo político do prefeito Lucas Pocay.

O quadro de cargos de direção da SAE podem ser consultados através do site da SAE no endereço: http://www.sae-ourinhos.com.br/institucional/2/p/

Coleta de lixo tem redução de quadro
Além da questão dramática da falta de água, a cidade de Ourinhos viveu na semana retrasada uma situação inusitada na coleta de lixo. Pela primeira vez a coleta foi realizada de forma irregular, não passando nos dias corretos, o que fez com que o volume de lixo acumulado nas ruas dos bairros aumentasse e os moradores não soubessem se deviam por ou não, o lixo na frente de suas casas.
A questão veio à tona na terça-feira, 07, quando os coletores se reuniram e fizeram reinvindicações como reajuste de salários, além da reposição do número de coletores, já que segundo eles, o quadro foi reduzido devido a transferências de alguns coletores para outros setores, fato que levou a uma sobrecarga de trabalho, tendo que trabalhar depois do horário para conseguir realizar o serviço programado.
Na quarta-feira, 08, além de ter que trabalhar após o horário de trabalho estipulado, ao chegar a sede da SAE para almoçar no refeitório, algo de praxe, quando trabalham até mais tarde, os coletores foram comunicados que não teriam almoço por terem chegado ‘atrasados’. Os funcionários consideram o fato inédito como uma represália pela manifestação feita no dia anterior.
CPI da SAE
De acordo com informações obtidas pela reportagem do Contratempo, os vereadores se articulam para a criação da “CPI da SAE” logo na primeira sessão da Câmara Municipal, no próximo dia 04 de fevereiro. Apesar de 12 dos 15 vereadores serem da base de apoio ao prefeito Lucas Pocay, a repercussão negativa perante a população devido a falta de água em todas as regiões de Ourinhos, além dos inúmeros casos de nomeações “questionáveis” em cargos de confiança de caráter estratégico para o abastecimento de água da cidade, e dos boatos de uma possível privatização da SAE, acabou fazendo com que eles tenham se sentido pressionados pelos seus eleitores, fato que poderá trazer mais um desgaste político para o prefeito Lucas Pocay, no início do seu terceiro ano de mandato.

 

 

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