Colunistas | Uma carta de amor escrita por outro (sem pensar em formas pontiagudas na testa) — Pedro Saldida

Após os protestos do dia 7 de Setembro, dia que deveria ser para celebrar os 199 anos da Independência do Brasil, dia 8 logo pela manhã Bolsonaro pede ajuda à raposa velha da política.
Podem não gostar dele, mas política é saber negociar, é ter estômago para determinadas situações que não concordamos e seguir com um sorriso estampado no rosto. E Temer sabe negociar como ninguém. Temer não abandona os seus, tanto que uma das exigências foi o regime semiaberto para Gedell Lima, ex-ministro do governo de Temer. STF, Fachin acederam. Então o STF também se move nos meandros da política, não se debruça somente sobre o manto do Poder Judiciário, exemplos disso foi a prisão de Lula, o impeachement de Dilma.
Após atacar Alexandre de Moraes, que será o próximo Presidente do TSE e abriu o inquérito das fake news, depois de afirmar que não acataria mais nenhuma decisão de Alexandre de Moraes, quem melhor que Temer para intermediar o diálogo já que foi responsável pela nomeação de Moraes para Ministro da Justiça, e posteriormente Juíz do STF?
Foi uma jogada de mestre, porque acredito que os bastidores da política, após os atos antidemocráticos do dia 7 de Setembro, após a tentativa falhada de golpe, estavam fervilhando e caminhando a passos largos para um processo de impeachement. Dizem que eram 6h30m da manhã de dia 8 e já estavam os dois conversando no celular, Temer e Bolsonaro. Segundo se sabe a carta de renúncia (de rejeição e não do Presidente, para mal dos nossos pecados) e negação estava aprovada nessa mesma manhã. Temer quem escreveu. Bolsonaro não tem capacidade para contar até 10 (quer dizer, até tem, não consegue é fazer flexões).
Mas os meus dias anteriores de preocupação e susto com a possibilidade de um golpe, deram lugar a dias subsequentes de risada e gargalhada.
Dou risada quando lembro dos 10 pontos da carta de negação. Dou risada com os caminhoneiros chorando porque Bolsonaro conseguiu o Estado de Sítio. Dou risada quando lembro das caras dos fanáticos apoiadores não saberem o que pensar ou fazer em seguida. É hilário demais gente, juro que é divinal, melhor que este roteiro só o “Casamento do meu melhor amigo” de 1997, com Julia Roberts e Cameron Diaz.
Dou risada com os empresários (inclusive os de Ourinhos) que gastaram tanto dinheiro para levar as pessoas para o golpe e, ao invés, o que tivémos foram as pancadas de Molière anunciando o início do fim do Presidente, pelo menos aos olhos de muitos apoiantes seus, porque a grande maioria da população já sabe com o que pode contar.
Dou risada com o MBL, hoje dia 12 de Setembro nas ruas, e olhei para o Dória e lembrei do filme “Porky`s” aquando da sua dança com a bandeira do Brasil.
O MBL resolveu quebrar a louça, resolveu abandonar a sua cria. MBL criou Bolsonaro. Ele foi cuidado e alimentado na barriga e foi amamentado durante muito tempo, agora deixam abandonado nas escadas da Câmara dos Deputados. MBL quis destruir Dilma e colocar Bolsonaro no poder que se esqueceu do mais importante, Bolsonaro não defende aliados, somente a sua família, veja-se o caso do Zé Trovão, de Sara Winter, de Roberto Jefferson. E depois as pessoas criticam Dória que se colou na campanha e depois sumiu e virou oposição.
Relembrando um dos pontos do Presidente Temer, desculpem Bolsonaro, que confusão, que miscelânea, que salada de frutas, quando fala que as pessoas que exercem o poder não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia. Este pedaço do texto acredito que Temer cometeu uma piada no meio do mesmo. Esta fala se refere a Bolsonaro e não ao Ministro Alexandre de Moraes. A outra piada que Temer incluiu no texto foi quando afirmou que Bolsonaro falou no calor do momento. Como pode alguém falar que foi no calor do momento quando preparou o golpe durante dois meses? Como pode alguém falar que foi no calor do momento quando tem um ponto no ouvido? E teve ponto em Brasília e em São Paulo, não podem fingir que foi no calor do momento.
Na nossa cidade é visível já algumas manifestações de municípes face à falta de limpeza urbana. As reclamações se notam próximo ao Mercadão e à Praça da Santa Casa da Misericórdia, na Vila Moraes. Situação complicada quando a Gestão é elogiada e aprovada do jeito que querem que seja, mas fake news já fazem parte do nosso quotidiano. Veja-se o abandono a que foi deixada a Praça Mello Peixoto, cartão de visita da nossa Cidade. A única coisa que importam são as ciclovias e cargos comissionados, o resto são peanuts. O povo que lute, o próximo que se preocupe porque as preocupações agora são outras.

Esta semana deixo-vos com uma frase de Robert Musil, escritor austríaco, nascido em 1880:
“Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade.”

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