Geopolítica: A fênix que ressurge ou o elefante na sala de estar?

Por Filipe Luiz dos Santos Rosa

Ao acessar portais de notícias internacionais, ou mesmo páginas voltadas ao público vestibulando, é comum nos depararmos com o uso da palavra “geopolítica” de forma indiscriminada. Na maioria esmagadora das vezes se referindo a conteúdos genéricos sobre atualidades e política internacional. Somada a essa vulgarização do termo, temos ainda aqueles que defendem que, dada à fluidez dos tempos atuais e o encolhimento do papel dos Estados como protagonistas do mundo globalizado, a geopolítica como ciência tenha se tornado obsoleta/ultrapassada e que está sendo eclipsada pela “Geoeconomia”, tanto em relevância como em difusão. Entretanto, arrisco-me a afirmar que, na verdade, o que existe é uma considerável desinformação que levou o conceito de geopolítica a uma quase completa descaracterização e vulgarização.

As diversas explicações para essa descaracterização vão desde o equívoco de considerar “geopolítica” como uma simples contração de “geografia política” (que  se configura como uma modalidade diferente da ciência geográfica) até o estigma que paira sobre este campo de estudo devido  sua abordagem pragmática e utilitarista que, do inicio do século XX até meados dos anos 1970, serviu aos interesses imperialistas de vários Estados do globo em suas disputas pelo poder mundial.

Nesse momento várias perguntas relevantes surgem: O que é a geopolítica afinal? Ainda precisamos dela no mundo pós guerra fria? Existe espaço para a Geopolítica em um mundo supostamente globalizado? O crescente domínio das grandes corporações tornou a geopolítica obsoleta? Por onde anda o cantor ‘Vinny’?

Essas são perguntas que se encontram em ampla discussão entre os estudiosos de diversas áreas, aos mais curiosos recomendo a leitura do texto “O que é geopolítica? E geografia política?” disponível na página pessoal do professor José William Vesentini. Nesse artigo, ele apresenta uma explanação direta e concisa das diversas abordagens da Geopolítica e da Geografia Política ao longo da história. Por hora, é suficiente dizer que a Geopolítica hoje é um campo de estudos interdisciplinar que, assim como a geografia política, diz respeito às disputas de poder no espaço mundial com uma principal distinção: a geopolítica se apresenta como uma ciência aplicada, ou seja, que busca aplicar os conhecimentos na formulação de teorias e estratégias políticas ligadas a disputas de poder, enquanto a geografia política seria apenas analítica, sem a intenção de participar ativamente dessas disputas.

Uma vez delimitado o papel de geopolítica como campo do conhecimento é fundamental pensarmos nas demais questões: com o esfacelamento da União Soviética e consolidação dos Estados Unidos como superpotência hegemônica no campo do poder político e militar, seria a geopolítica uma simples quinquilharia do passado? Será realmente correto assumir que, uma vez que no mundo globalizado as disputas se tornaram essencialmente econômicas e as grandes corporações assumiram um papel de protagonismo internacional, a geopolítica estaria fadada a ser absorvida e suplantada pela geoeconomia?

Não pretendo ser aquele que possui todas essas respostas, mas mais uma vez me arrisco a afirmar: Como o cavaleiro “Ikki de Fênix”, que ressurge das cinzas para salvar dos malfeitores seu irmão pacifista e mediador, vemos os grandes autores da geopolítica renascerem a cada novo anúncio de ilhas artificiais militares construídas no mar da China, evento que faria Alfred T. Mahan sorrir timidamente e sussurar: “pensaram que eu estava brincando?”. Sir H. J. Mackinder e N. J. Spykman pareceram mais vivos do que nunca quando o mundo assistiu embasbacado e atônito a ocupação da cidade de Sebastopol por tropas mascaradas equipadas como forças especiais russas, mas sem identificação alguma, e a subsequente anexação de toda a Criméia pela Rússia. A geopolítica, portanto, continua viva e se torna cada vez mais difícil de ignorar esse “elefante sentado na sala de estar”, fato que fica evidente quando o cidadão médio amanhece em 2016 e se sente em 1962 perante o anúncio de um novo sistema de mísseis  russos “Sarmat” (ou Satan-2, como apelidado pela OTAN) que vem para reequilibrar o balanço do poder nuclear no mundo, que pendia inquestionavelmente para o ocidente desde os anos 1990.

E a propósito: Vinny lançou em 2016 a banda “Rockabilly Trio” dedicada a tocar rock, jazz e blues…

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Filipe Luiz dos Santos Rosa é graduado em geografia e possui especialização em história militar.

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