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Infeliz Ano Velho

Infeliz Ano Velho

Escrevo no dia seguinte ao afastamento de Renan da Presidência do Senado da República. Estamos nos estertores desse fatídico ano velho. Na televisão, já de manhã, o noticiário repetitivo vai estampando nossas pequenas tragédias cotidianas: subiu o preço da gasolina, o desemprego superou a casa dos 12%, a renda média do trabalhador caiu mais de 10%, é anunciada a reforma da previdência…

Nossa realidade vai sendo retratada, um quadro dantesco, nossa Guernica colorida. Chefiando o governo um reles traidor, fraco, acovardado, enlevado nos pequenos conchavos diários, cercado de indiciados e investigados, todos tentando, desesperadamente, salvar a própria pele. No Congresso, os canalhas construíram uma maioria sólida e vão, motivados pelas barganhas de sempre, a galope, aprovando um programa neoliberal e entreguista sem precedentes. Fatiaram a Petrobras e o Banco do Brasil vai sendo sucateado, começando pelas pequenas cidades e pelos bairros mais populares.

É mais uma contribuição para o desemprego! Está quase consumada a aprovação da PEC 241/55, medida sem precedente no mundo, que retira substanciais recursos de nossos já insuficientes serviços de educação, saúde, assistência social, ciência e tecnologia. Para resumir, cortam gastos de tudo, exceto do pagamento de juros (os mais elevados do planeta!). O Judiciário, em tese, o poder garantidor da democracia, a tudo assiste, conivente (às vezes cúmplice), mais preocupado em manter os próprios privilégios. Como defender o pagamento de salários e vantagens muito acima do permitido pela Constituição nos tribunais ditos superiores em todo o país?

No plano local, repetimos as mesmas práticas: a necessária redução dos cargos comissionados dorme candidamente em uma das gavetas da Câmara de Vereadores e, no apagar das luzes, a atual administração aumenta, por decreto, em mais de 20%, as taxas de coleta de lixo. E, pior, nossas lideranças locais assistem a seus partidos em Brasília fazendo as melhores barganhas sem dar um pio. Estão todos, lá e cá, muito ocupados com a política menor, com o toma lá dá cá. Nega-se a política, prevalecem os interesses. Só vejo uma saída: devolver o poder para o povo e restaurar a democracia. Precisamos de eleições gerais o mais rapidamente, inclusive para uma constituinte revisional exclusiva, que promova uma reforma política capaz de restituir a esperança aos mais de 200 milhões de brasileiros que sonham com o trabalho decente e a prosperidade. Nos debates políticos, o desafio é substituir os insultos pelos argumentos. E, finalmente, sobre a corrupção: o combate aos mal feitos precisa ser permanente, sem heróis nem salvadores, dentro da lei e sem abusos ou espetáculos.

O ano ainda não acabou. Teremos novas e fortes emoções. Vem aí a dita reforma da previdência, sem contar a delação da Odebrecht.

É isso.  Feliz Ano Novo!

Mário Ferreira é farmacêutico bioquímico, diretor do Laboratório Santa Paula

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