Verdansk 84: o sucesso se faz caminhando

O Sol rasga a tela do computador de Lucas Martins, de 24 anos, ele abre o mapa para ver onde vai cair e cumprir sua primeira missão. Salta do helicóptero e lá começa mais uma queda. Cada uma diferente da outra, cada queda lembra um episódio novo de uma novela nunca antes vista. O nome do jogo é Call Of Duty, Warzone, vulgo COD. Eu falo que é Criador de Ofensas Desnecessárias, não somente para quem joga, mas também para quem está à nossa volta. O som do jogo, aliado ao stress levam a que tenhamos que falar mais alto e não deixar ninguém dormir em casa. Mas o mais engraçado é ver pessoas que são relativamente calmas no dia a dia ultrapassarem os limites da capacidade humana. Nunca vi um jogo assim, do alto dos meus 46 anos lembro de lutar contra a minha mãe para ver quem batia recordes, no Pac-man, no Tetris, no Prince Of Persia. Pois bem, comecei jogando e fiquei viciado, é muito bom o jogo, e não, não me falem de outro, é este e somente este. Mas falemos então de Lucas, vulgo Dear Mama, para quem não conhece, Dear Mama faz live e só joga COD, todos os dias no Facebook. Foi a vida que escolheu, temos que entender, embora para quem é mais velho, tal fato seja difícil de entender, onde já se viu chamar de streamer uma profissão. Mas se analisarmos bem é um nicho enorme, com muitos seguidores e o sonho de muita criança. Dear Mama não é um caso diferente, desde criança que gosta de jogos, começou jogando aos 12 um jogo chamado Runescape. Quando Cod surgiu em 2020, Dear Mama entrou junto e abraçou toda a envolvência do jogo, foi amor à primeira vista. Começou estudando tudo sobre o jogo, gráficos, jogabilidade e competitividade até porque este é seu primeiro jogo de tiros. Adquiriu um computador gamer simples e ao final de seis meses trocou por um bem melhor, porque é um jogo que não pode ser jogado em qualquer computador. De ressaltar que, apesar de nossas mentes poluídas, seu nick foi inspirado numa música que Lucas escutou quando era mais novo, música de Tupac Shakur, com o nome de “Dear Mama”.

Lucas não teve muito apoio da família, já comentei, nós os mais velhos temos alguma dificuldade em entender a profissão de streamer, mas lutou para tal, era o que gostava, o que ele queria na vida. Lucas é programador web, mas focou na atividade de streamer. Para chegar até aqui, teve muito o apoio da namorada, Gisele, que criou sua logomarca, sua página nas redes sociais e deu de presente um fone gamer, que usa até hoje com muita estima e muito carinho. Treinou 10 horas por dia para chegar aonde hoje se encontra.

Para ser bom, como em qualquer profissão, são necessários muito empenho e muita dedicação, embora eu entenda que seja mais complicado, já que não tem carteira assinada, tem que lutar para ter público assistindo e apoiando suas lives.

Maior gratificação é o crescimento contínuo, ver novas pessoas diariamente entrarem na sua live e acompanharem seu trabalho, o que se torna uma forte ajuda para a realização de seus sonhos e torcendo para o seu sucesso.

Dear Mama demorou cerca de 1 ano para começar a receber alguma remuneração. Não é fácil, mas com luta tudo se consegue. A reflexão é enorme e requer muita paciência, já que o caminho até ao sucesso, a ter dinheiro na conta, tem muitos obstáculos, muitas barreiras para transpor.

Seus maiores sonhos são os mesmos de muito ser humano. Almejar o sucesso, mas o sucesso é o maior número de vitórias em torneios, venceu sábado o B3_Crazy Revelation, o maior número de seguidores e apoiadores.

Coisa que mais confusão me faz é como um streamer consegue jogar e interagir com o chat. Dear Mama me disse que lidar com o chat desperta muitos sentimentos, do amor ao ódio, já que, por vezes, recebe mensagens de apoio, mas também recebe mensagens com críticas que podem abalar. Dear ignora as mensagens que em nada servem ao seu crescimento e mantém a educação mesmo que tenha que se controlar muito.

Mas ser streamer não é só um mar de rosas como muitos pensam. Tem que abdicar de muita coisa, visto que assumiu um compromisso com horários e lives e que não pode quebrar, caso contrário, toda uma vida vai por água abaixo, como costumamos falar. Ao mesmo tempo perdeu a liberdade para fazer muitas das coisas que gosta, mas é pior que ter carteira assinada, porque depende exclusivamente de si.

Seu maior sonho é crescer como streamer, conquistar um público que o acompanhe e curta seu trabalho, participar dos maiores campeonatos mundiais, montar o seu próprio espaço para as lives, quem assiste vê que é um espacinho pequenino entre o guarda-roupa e a cama, com um cenário envolvente, bonito e bem decorado que possa mostrar as pessoas num espaço adequado sua alegria e sua virtude de jogador.

Sempre que posso assisto suas lives, agora que vou voltar a trabalhar será cada vez mais difícil, mas sempre gostei pela sua visão de jogo, pela sua educação. Tem um canal no Youtube onde passa para as pessoas seus aprendizados e experiências.

Para quem, como eu, procura aprender, embora entenda que será difícil algum dia ser bom no jogo, entendo que seja a melhor live, já que Dear Mama interage positivamente e não se escusa nunca a responder a nada nem a ninguém. O mais engraçado é a sua calma no jogo, eu fico com arritmia, com mau humor, com a pressão alta. Dear Mama não, é de uma calma assustadora, acredito que a experiência seja um fator determinante.

Espero que muitos jovens, como Dear Mama, possam seguir seus sonhos e que seus familiares possam apoiar, porque uma pessoa sozinha nada consegue. Nós os mais velhos, como o Fábio Pombo, o Hermes e eu próprio, vamos continuando a passar vergonha no jogo comparados com estes jovens. Mas jogamos por prazer, para passar o tempo, eles não, são suas vidas profissionais que estão em jogo.

Deixo-vos, como sempre, com a frase de Patrícia Galvão: “ Tenha até pesadelos, se necessário for. Mas sonhe.”.

Pedro Saldida

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