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Com fontes inéditas, historiador busca humanizar figura do vilão Joaquim Silvério dos Reis

Com fontes inéditas, historiador busca humanizar figura do vilão Joaquim Silvério dos Reis

 Principal delator da Inconfidência Mineira, Silvério dos Reis carrega a reputação de traidor e responsável pela execução do maior herói popular da História do Brasil, o Tiradentes. Uma pesquisa da Unesp, no câmpus de Assis, amplia a visão deste personagem histórico e contesta as explicações tradicionais sobre suas motivações para denunciar os inconfidentes

Após a proclamação da República, em 1889, a figura de Tiradentes foi deliberadamente ressignificada pelas autoridades nacionais para se tornar um herói protorepublicano. Esse processo envolveu a construção de uma imagem semelhante à de Jesus Cristo, com direito a cabelos e barbas longos que ele nunca ostentou. Diante dessa referência bíblica, tornou-se inevitável associar a figura de Joaquim Silvério dos Reis, o principal delator da Inconfidência Mineira, à de Judas Iscariotes. Afinal, se este entregou Cristo aos soldados romanos por 30 moedas de prata, aquele delatou Tiradentes e os companheiros de conjuração em troca do perdão de suas imensas dívidas com a Coroa portuguesa.

A motivação de Joaquim Silvério dos Reis para realizar sua delação premiada é um dos elementos da historiografia tradicional questionada pelo historiador André Rodrigues, professor da Unesp no câmpus de Assis. Para isso, o pesquisador busca reconstruir a trajetória do personagem a partir de cartas e documentos privados que estão nas mãos dos descendentes dessas figuras históricas, além vasculhar arquivos situados longe dos grandes centros urbanos ou mesmo consultar a literatura e a memória de viajantes que passaram pelos locais em que Joaquim Silvério viveu, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão.

“Não se conhece praticamente nada do Silvério que não seja assunto ligado à delação que fez contra os inconfidentes mineiros e que estão nos Autos da Devassa”, diz, em referência ao conjunto de documentos do processo judicial movido pela Coroa Portuguesa contra os inconfidentes e até hoje a principal fonte dos historiadores sobre o episódio. “Ainda existem muitos documentos manuscritos sobre essa época à espera dos pesquisadores”, diz o historiador, que tem dedicado boa parte de sua carreira acadêmica a investigar fatos e personagens periféricos da Inconfidência Mineira.

Esses documentos apontam, por exemplo, que Silvério dos Reis tinha dinheiro para pagar suas dívidas, e que sua motivação para entregar o movimento independentista às autoridades portuguesas estava ligada também ao risco da perda de status. A reconstrução da trajetória de Silvério dos Reis remete a um homem de extração social popular, que havia chegado ao Brasil jovem e pobre, e subido na vida devido ao próprio esforço. Neste sentido, explica o historiador, Joaquim Silvério prezava sua patente de coronel de cavalaria, e tinha repúdio à possibilidade de perdê-la – e, junto com ela, a posição conquistada na sociedade colonial.

“Acho que, por muito tempo, as pessoas não quiseram estudar a trajetória de Joaquim Silvério para não diminuir o mito de Tiradentes. Meu esforço é reconstruir essa figura e mostrar que foi um homem que também errou e enfrentou uma série de problemas, como qualquer ser humano”, diz Rodrigues. “Difícil dizer se ele é de fato um traidor, ou apenas um denunciante. Ele argumentava que por ser português, estava apenas defendendo os interesses de Portugal”, analisa o historiador.

Leia a íntegra da reportagem  no Jornal da Unesp : https://jornal.unesp.br/2024/04/16/como-humanizar-um-vilao/ 

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