Para derrotar Cunha é preciso estratégia e tática, não espontaneísmo amador
por Thomas de Toledo*
Esta semana será complexa na política nacional e um passo em falso pode comprometer o futuro do Brasil por décadas. A situação de Cunha na presidência da câmara é cada vez mais insustentável. Além de ele ser um personagem nefasto e representar o que há de mais podre na política, sua agenda é de violação a direitos trabalhistas e liberdades individuais.
O melhor para o Brasil é que Cunha caia. Mas, porém, contudo, entretanto e todavia, a decisão do STF acerca do rito de um processo de impeachment contra a presidente Dilma dá exclusivamente ao presidente da câmara o poder de encaminá-lo. Ou seja, Cunha pode fazer um estrago sem precedentes na democracia se ele colocar em votação um processo de impeachment. Será o golpe do imperialismo e dos derrotados em 2002, 2006, 2010 e 2014. Ele cai, mas junto derruba o governo, a democracia e as parcas conquistas dos governos Lula e Dilma.
Por isto é preciso tomar muito cuidado com o espontaneísmo de certos deputados do PT indo no embalo do PSOL e chamando abertamente o “Fora Cunha”. Por que? Ora, tudo na política tem seu timing. Hoje, a base de apoio do governo está fragmentada. Se Cunha chama um processo de impeachment contra Dilma, a chance de ele passar é grande. A eleição em que Chinaglia enfrentou Cunha na disputa pela presidência da câmara mostra a disparidade entre a força do PT na casa e a de Cunha que conseguiu financiamento empresarial para muitos deputados que hoje o apoiam.
Portanto, antes de assumir abertamente uma posição bonitinha de “Fora Cunha”, o correto é somar esforços para recompor a base parlamentar do governo. Foi exatamente isto que Lula quis dizer e a mídia distorceu como “acordo entre Cunha e o governo”. Não se trata disto. Trata-se de agir com tática e estratégia para derrubar Cunha sem derrubar Dilma É nesta linha que o PCdoB e a outra metade do PT tem seguido.
O amadorismo infantil do PSOL reflete o que ele é na prática: um aglomerado pequeno burguês de tendências extremadas ou “políticos ilustres” voltados a projetos individuais. Nada diferente do PT, seu genitor, que jamais pensou como partido, mas sim como frente de tendências e de “políticos ilustres”. Resultado: cada um vai pra um canto pra contentar sua base eleitoral e esquecem do principal que é salvar a democracia e evitar um golpe de direita.
Agora não é hora de marcar posições ou de fazer bonitinho pro eleitorado. É hora de ter ação coordenada, centralizada e de agir como um exército unido em busca de um objetivo maior: derrotar Cunha, afastar o fantasma do golpe contra Dilma e mudar os rumos da política econômica para a retomada do crescimento.
* Thomas de Toledo. Historiador pela USP, Mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e Professor de História Econômica e Relações Internacionais da UNIP.