Professores da rede estadual de ensino relatam sobre a volta das aulas presenciais
Mesmo com autorização de greve da APEOESP, muitos professores não aderiram a paralisação
Juliana Neves
Na semana passada, sexta-feira, 5, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) aprovou greve dos professores contra a volta das aulas presenciais a partir do dia 8 de fevereiro, segunda-feira. Em assembleia regional virtual, foi constatado que 91% queriam a paralisação e 82% foram favoráveis para a continuação do ensino remoto.
Em Ourinhos, segundo Luís Horta, membro da diretoria estadual e coordenador regional da APEOESP subsede em Ourinhos, ainda não há informações precisas da adesão à greve no município em razão dos professores estarem preferindo continuar no ensino remoto, mesmo sendo um modo de trabalho mais cansativo e que necessita de tempo.
Portanto, a motivação para a greve é em defesa da vida sendo contra as aulas presenciais, pois o retorno físico pode causar contágio descontrolado do vírus e possuímos Unidades de Tratamento Intensivo (UTI’s) lotados por todo o estado, alunos convivem com idosos, professores e funcionários serão expostos a este risco de contaminação, entre outros fatores.
“Queremos a manutenção do trabalho remoto em home office para todos os professores – consideramos que todos fazem parte do grupo de risco nesse momento e não apenas os com idade superior a 60 anos e os com comorbidades; Reivindicamos que os professores e todos os funcionários de escola – gestão escolar, secretaria, inspetores, serventes, merendeiras sejam priorizados na vacinação; que o Estado faça as reformas necessárias nos prédios escolares para adaptá-los aos novos tempos – troca de janelas, mais banheiros para alunos e pátios amplos para que tenhamos ambientes saudáveis e mais seguros; Que reduza o número de alunos por salas de aula – 25 no máximo – hoje temos salas com mais de 40 alunos em espaços que mal caberiam as 25 reivindicadas; Que forneça aos professores equipamentos tecnológicos pessoais – internet rápida, notebooks e celulares para que os professores possam lecionar remotamente com qualidade; e que garanta exames de covid para todos e com regularidade, para que haja um controle da pandemia que, mesmo com a vacinação é sabido que os casos de reinfecção e as novas cepas do vírus que apareceram em Manaus, África do Sul e Inglaterra as vacinas que temos ainda não se mostraram eficientes”, explica Horta.
Além de reivindicar, de modo geral, por auxílio emergência, quebra de patente das vacinas, fim do desconto previdenciário dos aposentados, ampliação do atendimento do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE), revogação da reforma da previdência, garantia de emprega para professores categoria O, fim do assédio moral e defesa de gestão democrática.
Opinião de professores
Em algumas escolas estaduais, há professores em ensino remoto e outros em modo presencial. Com isso, a preocupação primordial dos que estão “ao vivo” em sala de aula é a falta de segurança pela maioria ainda não estar vacinada. Sendo considerado uma proposta das instituições governamentais em pularem etapas para considerar as diferentes situações de escolas estaduais, municipais e particulares.
Na visão de um professor de escola pública ourinhense, que terá sua identidade preservada, “os protocolos servem para a prevenção, mas não inibem 100% as chances de contaminação. Estamos durante esta primeira semana de aula com os alunos respaldados pela escola com os equipamentos de proteção individual, álcool em gel, tapetes desinfetantes, regras para entrada e saída de alunos, merenda seca para não haver compartilhamento de talheres, restrição de horário de permanência na escola e seleção de grupos reduzidos de alunos que frequentam a escola em semanas intercaladas em forma de rodízio. Acredito que todas as escolas estão fazendo seu melhor. Vejo que a consequência sobre esta volta presencial será sentida daqui algumas semanas, quando a nossa presença nas escolas se tornar algo normal em meio a pandemia e nossa disciplina para com os protocolos passar por um relaxamento”.
Uma questão importante, apontada pelo professor, são alterações no Ensino Médio. Esta mudança será trabalhar por grandes áreas prevalecendo o valor sobre “habilidades” que os alunos devem possuir em relação ao conteúdo. Por exemplo, ciências humanas será estudado uma mesma habilidade para aspectos de sociologia, filosofia, geografia e história de forma a ser mais integrada. A consequência é o menor aprofundamento em cada matéria.
“Se a preocupação é com a desigualdade entre alunos da rede pública e da rede particular nesta pandemia, estas mudanças demonstram preocupações distintas entre esses dois setores da educação que não podem ser pautados pela pandemia e, sim, a política pedagógica que norteia as ações da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para com as escolas públicas. Em resumo, estamos passando por uma nova pandemia dentro da própria educação, para aquele professor que está neste momento voltando para escola, deve se preocupar tanto com a segurança de sua saúde, como também, com os rumos que a educação pública está tomando ao ser entregue às intervenções do setor privado, como o Instituto Ayrton Senna.”, explana o professor.
Outro professor esclarece que está indo obrigado para a escola, já que muitos dos seus colegas não aderiram à greve, e somente um é uma situação complicada. Em relação aos protocolos de saúde, até o momento, todos estão usando máscaras em todos os momentos, álcool em gel por toda a escola e a diretoria questionou quem gostaria de usar a máscara de acrílico e alguns foram adeptos a este objeto. E não há ninguém medindo temperaturas.
“De modo integral, os alunos estão frequentando a escola em modo rodízio, uma parte vai de manhã e outra no período da tarde, além do rodízio dos dias que serão aulas presenciais e virtuais. Apesar que na maior parte do tempo as pessoas estão respeitando o distanciamento, já observei que uma hora ou outra professores, alunos se juntam em uma roda de conversa, principalmente no momento do café. Portanto, minha opinião é que voltar presencial neste momento é um equívoco com o planejamento de vacinação com status de ser atrasado”, conta o outro professor.
Por fim, uma professora, também de escola da rede estadual, relata que muitos professores estão atendendo diversa turmas de forma simultânea. O motivo é do estado não ter realizado contratações de professores substitutos ou eventuais para atender a demanda dos professores do grupo de risco.
“O trabalho desempenhado pelo grupo de risco é o atendimento remoto, a busca ativa e desenvolvimento de atividades que podem ser aulas via plataformas. O Estado sequer aparelhou a escolas para que eu atenda minhas turmas em tempo real, pois não estou frequentando em modo presencial por ser grupo de risco e acredito que o meu pedido de continuar em modo remoto será indeferido. E o trabalho remoto fica mais difícil quando o professor não conhece suas turmas ou veio de outra escola. No meu caso, trabalho há nove anos na mesma escola e sempre no ensino médio. Já conheço meus alunos, mesmo assim está difícil com a precarização das estruturas das escolas”, finaliza a professora.