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Criado na pandemia, o Comida de Verdade é parceiro de pequenos agricultores e distribui alimentação para famílias carentes

Criado na pandemia, o Comida de Verdade é parceiro de pequenos agricultores e distribui alimentação para famílias carentes

Projeto ourinhense que instiga a produção e consumo de alimentos saudáveis com qualidade dos pequenos agricultores da região distribuindo os produtos para as famílias que mais necessitam de alimentos

 

Juliana Neves

 

Comida de Verdade é o projeto ourinhense de doação de alimentos saudáveis e frescos para as famílias vulneráveis, que nasceu em 2020 no início da pandemia no Brasil. Realizado através de doações e compra direta de pequenos produtores locais. Em março, July Yukie, por conhecer um outro projeto, convidou dois amigos para iniciar um movimento no município e o aceitaram. Em seguida, já pedir doações e a procurar pelos pequenos produtores locais e entidades que distribuem alimentos.

“Depois foram chegando mais pessoas para somar, e elas ajudam nas entregas, doam mensalmente, ajudam na logística e divulgações etc. A nossa primeira entrega foi no início de abril de 2020 e não paramos mais, com entregas geralmente quinzenais, mas depende de muitos fatores, como a disponibilidade dos produtores, de arrecadações e de mão de obra. Às vezes, conseguimos ir toda semana ou demoramos uns 20 dias. Inicialmente, a ideia era somar alimentos nutritivos junto às instituições que já distribuíam cestas básicas, para evitar exposições desnecessárias da equipe, mas principalmente das famílias beneficiadas, só que a logística não se mostrou possível. Muito difícil encontrar pequenos produtores, geralmente com poucos produtos disponíveis e rapidamente perecíveis para a logística das cestas básicas, especialmente no período mais seco e quente”, conta July.

Portanto, o objetivo central do Comida de Verdade é fomentar a consciência sobre a questão de alimentação de qualidade, além de promover a nossa saúde e do solo beneficiando ambas as partes, desde o produtor até o consumidor. Já em planejamento de médio a longo prazo, é trazer à tona as dificuldades enfrentadas pelos agricultores e buscar por soluções junto a eles. É resgatar o conhecimento que ainda temos na sabedoria popular e outros que são pautas no movimento da agroecologia.

Página no Facebook do projeto.

Sobre os produtores parceiros deste projeto, July é assertiva ao dizer que “até o momento, infelizmente, só conseguimos localizar dez pequenos produtores e bem pequenos. Mas, geralmente, só três a cinco deles têm algum produto disponível a cada entrega. Testemunhamos também, neste mais de um ano de trabalho, alguns abandonarem a prática da agricultura e abrirem pequenos negócios na tentativa de sobreviver. Uma triste realidade”.

Em relação as pessoas que recebem os alimentos, atualmente, está presente na média de 30 a 50 famílias ao longo de um a dois meses. Sendo que maioria é de médio a grande porte. E quando conseguem uma maior arrecadação, mais do que é o esperado, o Comida de Verdade ajuda o Recicla (Associação dos Catadores de Recicláveis de Ourinhos), bem como outras instituições.

“A demanda de famílias necessitadas cresceu demais, com o crescente desemprego e a falta de auxílio emergencial ou qualquer ação efetiva desse governo genocida, estamos focando nas entregas diretas a estas famílias. Também porque não temos a pretensão de nos vincular com nenhuma instituição pública ou privada. No último balanço, o mais recente, chegamos a um total de R$21mil reais arrecadados desde abril de 2020, com os quais realizamos quase 2000 entregas a 488 famílias diferentes (com três a 48 integrantes por família). Seja indiretamente por meio das instituições ou de porta em porta. […] A maioria das famílias individuais (não de instituições) são do Jardim São Carlos/Parque Minas Gerais, Itamaraty, alguns do Pacheco, Santos Dummont, Jardim Josefina, Vila Santa Maria, Cohab, Jardim Anchieta, Helena Brás, Vila São José, Vila Sandano, Vila Brasil, Vila Operaria, São Silvestre, Jardim Estoril, Vila Marcante.  Vamos conforme aparece demanda, por indicações de assistentes sociais, pessoal do grupo, pedidos nas nossas páginas etc.”, conta uma das idealizadoras do Comida de Verdade.

A avaliação do desenvolvimento do projeto é positiva, pois se sentem satisfeitos em colaborar de alguma maneira que o Comida de Verdade cresça. Mesmo com as dificuldades, como a falta de produtos, falta de mão de obra e carro para efetivar as entregas. Afinal, exige dedicação desde o planejamento prévio, a conversa com os agricultores, encarar imprevistos e ter disposição emocional e energética.

E July ainda acrescenta que “faltam palavras para descrever. O que mais me emociona ainda é receber mensagens de um agricultor perguntando se tem interesse de algum produto porque se demorar a vender vai perder a colheita. As famílias, algumas que, não tem nem um baldinho qualquer pra pegar as doações, cozinham em latas com fogueirinha no quintal, as avós principalmente comemorando o que ter pra dar pros netos muitas vezes sob sua total responsabilidade o dia todo. E o sorriso das crianças não tem preço, abraçando um abacate, sonhando como vai comer o ovo, comemorando uma coberta, roupas ou brinquedos que às vezes conseguimos também de doação. Famílias que nos chamam para ver a dispensa vazia e nos acham enviados por Deus para terem o que comer naquela noite. E outra emoção gigante é algumas famílias que voltaram a plantar ou a usar matos que crescem nos quintais e a avó usava na sua infância, as Plantas Alimentícias não-convencionais (PANC). […] Nossa próxima meta é fazer mudas em escala, levar terra boa, ajudar quem quer a começar um pequeno plantio. Aos pouquinhos, dentro de nossas possibilidades, vamos caminhando com pés firmes e esperançosos”.

Salvo que Ourinhos recepcionou de forma positiva o Comida de Verdade. Cada vez mais as pessoas se interessam pelo projeto para abraçar a causa dos produtores, os agricultores. E um fator importante do projeto é a intenção de proteção da imagem das famílias e seus integrantes no momento de entrega. Segundo July, não tiram muitas fotografias para não expor ninguém e nem para provar que o projeto é verdadeiro e cumpre com o que promete. Fotografia é só de quem pede.

A prestação de serviço, a satisfação para dizer onde foi entregue, como foi este momento e todos os alimentos doados são divulgados de tempos em tempos nas mídias sociais do projeto, a prestação mais detalhada acaba ficando no grupo interno porque boa parte do recurso é deste grupo. Mas a prestação de contas é divulgada no Facebook e Instagram e quem doar pode solicitar mais detalhes da prestação de contas do Comida de Verdade.

Sendo assim, para o futuro, um outro sonho, é a realização de colocar em prática um curso de agroecologia e análise de solo e a organização social deles como associação. Professores dispostos a ajudar, o projeto já tem o contato e os agricultores já demonstraram interesse em adquirir conhecimento.

Por fim, July tem um recado importante para toda a população de Ourinhos: “gostaríamos de ressaltar que este projeto é, acima de tudo, um fazer coletivo, nunca suficiente, mas sempre em busca desse lugar em que não há um único mentor. Convidamos a todos a se unirem conosco nessa luta. O grupo é pequeno e os recursos insuficientes para abarcar tudo o que queremos. Então, precisamos de mais pessoas mobilizadas nessa articulação e, acima de tudo, em especial para somar na mão de obra, especialmente com carro para as entregas, na logística e na distribuição dos alimentos. Toda ajuda é bem-vinda. […] Neste frio, se tiver doações de agasalhos ou cobertores também é muito bem-vindo, ou qualquer outra coisa, pois que sempre encontramos pessoas que precisam”.

 

Imagem da capa: Facebook Comida de Verdade

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