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CARNAVAL: Criolé do samba, embaixador da cultura, é a cara do Brasil – João Teixeira

CARNAVAL: Criolé do samba, embaixador da cultura, é a cara do Brasil – João Teixeira

João Teixeira

O dom inato da ginga, do floreado exuberante, de quem tem “samba no pé” – e “…quem não gosta de samba bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou é doente do pé” – é a alegria que o corpo do passista irradia.
O samba – nossa mais legítima herança cultural africana – é solar, alegre, fraterno, gregário e universal.
Logo não combina com violência, drama, tragédia.
O samba celebra a vida, a criatividade espontânea do ser humano, o batuque pulsante dos corações.
Como todo homem nasce para ser feliz, simpático e sorridente, Criolé, nome de rua e símbolo vivo da Escola de Samba Vai-Vai, a mais tradicional de São Paulo, no Bexiga, é o legítimo representante da Escola que tem revelado os mais notáveis sambistas, com o famoso apito do mestre Pato N’agua.
Criolé é a mais perfeita tradução do samba paulistano. Simpático, cordato, tornou-se astro internacional sem perder sua verdadeira natureza, suas raízes, nesta terra de grosseiras falsificações.
A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Criolé vive feliz por conta da arte que o consagrou.
O Carnaval, a maior festa coletiva do planeta, tem mudado com os tempos e envolve novas fantasias, novos personagens e situações.
“…em feveré, em feveré, tem carná…”. A festa máxima da brasilidade, original e criativa, transforma-se ao longo dos tempos.
O caleidoscópio visual e energético, de cores, estilos, transgressões e personagens folclóricos encanta em outras constelações.
Desde os tempos do tílburi, do final do século 19 até meados do 20, época dos desfiles de charangas, de plumas e paetês, de dondocas emplumadas ao estilo da “Belle epoque”, de confete, serpentina e lanca-perfume, cheirava a mofo nos anos 60.
O Carnaval destes tempos (p)irados e pandemicos foi deslocado do calendário pelo vírus: neste 2022 será comemorado em abril, se Deus quiser e permitir, livrai-nos da estupidez autoritária que nos assola.
Longe vão os tempos em que o confete era um pedacinho colorido de saudades, de pierrós e colombinas, de mais de mil palhaços no salão.
O vírus contraria a tradição do Carnaval em “feveré”, do Patropi de Jorge Benjor.
As fantasias transformadas em realidade expressa o inconsciente coletivo tupiniquim e foi imortalizada por Tom Jobim em “A felicidade”.
“A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tranquila, depois de leve oscila, e cai como uma lágrima de amor…”
“…a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho pra fazer a fantasia, de rei, ou de pirata ou jardineira, pra tudo se acabar na quarta-feira…”
O Carnaval do século 21 está bem alterado, como o ânimo das pessoas, mas continua sendo uma extraordinária demonstração de organização e disciplina do povo brasileiro.
Como organizar, controlar e explorar ao máximo a potencialidade artística de milhares de figurantes, o caos feérico de alegria em que o povo – hoje menos folião e mais expectador dos milionários desfiles oficiais das escolas de samba – nas grandes cidades.
O Carnaval, mestiço, miscigenado, de todas as cores e classes sociais, mostra no asfalto, de forma alegórica e picaresca, o caráter imperial do caboclo, de tantos Reis, rainhas, princesas e marquesas, o formidável imaginário popular onde brincam negros de perucas loiras e brancos pintados de preto, que democraticamente sambam nos desfiles de Rio e São Paulo.
A “indústria do Carnaval” – assim como o Futebol S.A. – exige investimentos que geram milhares de empregos, movimenta fortunas que garantem a ocupação de comércios, hotéis, restaurantes, confeções, imprensa e meios de comunicação, estabelecimentos de turismo, esporte e lazer
E cria personagens altamente cotado como Criolé, a prova da fé viva do cidadão Adimilson Pereira, nascido e criado no seio de uma família de sambistas natos.
Espelhado em seu pai e nos irmãos mais velhos, “o pequeno Adimilson foi sentindo o doce sabor do samba que lhe despertou o dom de sambar o verdadeiro ‘samba no pé” – como Criolé a si mesmo se descreve.
As sementes de alegria e o gingado do sambista, lançadas em terras propícias á multiplicação, hoje alimentam muitas almas ao redor do mundo.
Criolé já formou uma roda de samba no hotel em que se hospedou, em Moscou; conheceu a beleza magestática da Praça da Paz Celestial, em Pequim. Em Angola apresentou-se para o presidente da República.
O mago do samba -Passista Nota Dez -, escolhido num concurso realizado em 1998 para o passista que melhor representasse o símbolo da Vai-Vai, simpático e sorridente, saúda com cortesia suas crescentes plateias internacionais. Já visitou 23 países, sempre alegre, pacífico e fraterno.
O samba tem um importante papel na divulgação da cultura brasileira.
“O papel de uma escola de samba não pode ser apenas fomentar a cultura e promover entretanimento” – esclarece o Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, no Rio.
“Como braço da sociedade civil, cabe ás agremiações carnavalescas ajudar na expansão da cidadania, especialmente para quem vive em suas comunidades imediatas” – prossegue a Portela.
“Da mesma forma, um enredo não pode ser apenas um mote para a produção de alegorias e fantasias, pois é fundamental passar uma mensagem que, além da relevância cultural, inspire, por exemplo, a descoberta da própria identidade”.
Neste aspecto, o Brasil multicultural e multiétnico, tem muito a avançar. A democracia e a cidadania não convivem com o arbítrio.
A Portela protesta contra o assassinato de um estudante e morador de Madureira, do Colégio Estadual Compositor Manaceia José de Andrade, o congolês Moyse Kabagamba.
A luta contra o racismo será o tema da Portela em 2022. Em favor de todos congolenses, angolanos, nigerianos e povos imigrantes que formam o “o caldeirão de todas as raças” no Brasil.
“Quem tenta acorrentar um sentimento, esquece que ser livre é fundamento, matriz suburbana, herança de preto, coragem no medo”.
Criolé manifesta solidariedade na luta por justiça e paz. Como ser universal, preconiza a convivência fraterna entre os povos, sem violência e racismo.
O sambista tem consciência de sua missão. Após apresentar-se para um público de 30 mil pessoas, pensou “bem que isso poderia acontecer no meu Brasil, pois eu precisei ir para tão longe para que as pessoas pudessem dar valor a nossa arte e á música popular brasileira”.
Criolé dá aulas de danças e ritmos, samba-floreado, samba-rock (universitario), pagode, salsa, afro e samba-no-pé.
Contato: (011) 99948-5871

Palavras-chaves: carnaval, samba, Criolé do samba

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