Ação Civil Pública pede troca de medidor glicemia distribuído pela prefeitura
Os pacientes demonstram que o aparelho medidor de glicemia “Match II”, apontava incorretamente níveis altos de glicemia induzindo os pacientes aumentar as doses de insulina a cada medição. A aferição errada estava acarretando problemas gravíssimos à saúde dos diabéticos provocando hipoglicemia e morte.
Os denunciantes solicitavam que a Secretaria de Saúde substituísse o medidor por outro aparelho que fosse eficiente e seguro, mas, mesmo com grande número de reclamações a interlocução com as autoridades responsáveis pela saúde pública foram dificultosas e infrutíferas.
Ação Cível Pública
O caso foi levado ao conhecimento do promotor Adelino Lorenzetti da 2ª Promotoria de Justiça de Ourinhos que agora 4 meses depois, propõe uma Ação Cível Pública com pedido de Tutela de Urgência diante da constatação do funcionamento defeituoso do glicosímetro fornecido pela Secretaria de Saúde com pedido de suspensão do fornecimento e substituição do equipamento.
Além de provas juntadas pelos pacientes, o promotor acrescenta que as mesmas incorreções nos testes apresentadas pelos usuários em Ourinhos, ocorreram em outros municípios em vários estados que adquiriram o mesmo aparelho; mas que suspenderam seu fornecimento em razão dos riscos aos usuários optando ainda por rescindir o contrato de seu fornecimento , medidas que não forma adotadas pelo secretário de Saúde de Ourinhos Donay Neto.
Na proposta da Ação do MP consta pareceres do Município do Rio de Janeiro, Goiânia, Aparecida de Goiânia, Florianópolis, São José dos Campos, Botucatu, Pindamonhangaba, Barra Bonita e o Estado do Ceará.
Relatos assustadores dos pacientes
De acordo com informações do grupo, pacientes passaram mal e tiveram que procurar o atendimento de emergência. Uma média de 126 pacientes não estão conseguindo ter controle glicêmico devido aos erros de leitura do aparelho. Há casos em que uma medição, por exemplo, consta um nível de glicose no sangue e minutos depois consta um outro totalmente diferente. Estima-se que perto de 600 pacientes diabéticos ourinhenses tenham recebido esse equipamento.
“Colhemos todos os depoimentos no grupo com muitas pessoas relatando o problema com esse medidor, juntamos os relatos na documentação que foi enviada ao Procurador Municipal Luiz Fernando Vechia. Fizemos várias comparações com o medidor que está apresentando defeito e outros medidores mais confiáveis, mostramos as disparidades através de fotos e vídeos mais nada foi resolvido, minha filha está sofrendo e nós estamos sofrendo com isso e se as pessoas que têm diabetes não tem o controle da glicemia o risco de complicações graves é muito grande”, desabafou uma das mães do grupo.
Jéssica Reis, mãe de uma menina de 14 anos conta que desde que começou a utilizar o aparelhinho novo, a glicemia de sua filha sempre apresentava nível elevado, e nesse caso teria que fazer uma dosagem a mais de insulina.
“Aconteceu várias vezes com a minha filha até que certa vez o aparelho novo mediu novamente acima e eu fiz a dosagem a mais de insulina nela. Ela disse que ia descansar e foi se deitar, passou uns 10 minutos eu encontrei minha filha inconsciente na cama. A glicemia dela não estava alta, estava baixa, então foi uma dose a mais desnecessária que quase a levou a morte. Foi aí que pensei que tinha alguma coisa de errada, fiquei desconfiada e como eu tenho um aparelho antigo eu fiz a medição por esse aparelho antigo para comparar e o nível era mais baixo. É muito perigoso não uso mais esse aparelho fornecido pela prefeitura”, contou a mãe.
Ouvida pela reportagem do Contratempo, a advogada ourinhense Barbara Vieira moradora na capital, disse que sua mãe de 67 anos é diabética tipo 1 há mais de 30 anos e diante da gravidade da situação dela, “não morreu porque Deus não quis”. A filha revelou que levou a mãe para morar com ela e desde então está sob seus cuidados em São Paulo onde sofreu mais dois três episódios graves de hipoglicemia, o primeiro foi em Ourinhos estava sozinha em casa e foi ao solo.
“Minha mãe ficou caída no chão até uma banana fazer subir a glicemia. Depois disso ela veio ficar comigo em São Paulo, teve hipo ao acordar, caiu e quebrou o pulso. Dois dias depois novamente uma hipo fortíssima, ficou 1 hora desacordada, chamamos o SAMU. Foi então que eu assumi o controle glicêmico dela, por recomendação da médica do SAMU”.
Barbara enviou a reportagem um vídeo acima demonstrando o erro do medidor, e prossegue dizendo que resolveu comprar um medidor mais moderno e confiável chamado sensor libre style que mede o dia todo, comparou os níveis de glicemia com o medidor distribuído pela prefeitura verificando a disparidade de valores glicêmicos entre dois aparelhos.
“Ao fazer as medições e aplicações de insulina, percebi que o medidor dela estava apontando números completamente errados, a quantidade de insulina que ela aplicava não seriam suficientes para causarem hipoglicemia de tal gravidade. Um dia eu medi a comparação com o sensor Libre Style e o Accu Check da Roche, o medidor fornecido pela prefeitura deu 70 a menos e os outros dois deram medidas semelhantes e cada crise de hipoglicemia de tamanha gravidade são muitos neurônios perdidos. Um medidor bom é imprescindível para que minha mãe permaneça viva”.