Roda Viva
“A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar.”
A canção “Roda Viva” foi lançada por Chico Buarque no Festival de MPB da Record de 1967, 3 anos depois do Golpe Militar. Assim como todos os artistas de MPB da época que lutaram contra ditadura, Chico usou de toda a subjetividade da poesia para falar sobre a repressão, a violência e o medo do período.
A música foi feita para uma peça de teatro que contava a trajetória um cantor massificado pelo esquema da televisão. A peça teve duas temporadas. No dia da estreia da segunda temporada, em 1968, na cidade São Paulo, o CCC (Comando de Caça aos Comunistas) invadiu o Teatro Ruth Escobar, destruiu o cenário e espancou os atores. O elenco obrigou-se a dar uma pausa na peça. Mais tarde, a formação da peça tentou resistir e voltar a apresentar o espetáculo, mas os atores foram novamente agredidos e ameaçados e a peça deixou de ser apresentada. No elenco, estavam Marieta Severo e Marília Pêra.
“Roda Viva” e Chico Buarque são símbolos de resistência e memória da luta contra a repressão do regime militar, mas já foram objeto de violência. Durante a ditadura, os artistas foram acusados de comunistas por defenderem a democracia. Eles não eram bandidos de forma alguma, muito menos, perigosos. A única arma que tinham era arte e coragem. Chico teve a sorte que milhares não tiveram, sobreviveu e ficou pra contar história e a História. Nessas eleições, aos 74 anos, voltou a lutar pela democracia.
Hoje, nós lutamos pela democracia e somos acusados de comunistas (de apoiar ladrão, bandido, de querer acabar com a família, etc).
Somos uma ameaça? Sim. Contra o autoritarismo e a favor da democracia.
Mas quem nos garante que não pagaremos por isso?
A lembrança da ditadura vive. Vive na sociedade e, principalmente, no discurso e na vontade de Bolsonaro. Ele sente falta do regime e ele está perto de ser o nosso próximo Presidente, chefe do Estado, o cargo mais alto do Exército. A partir de 01 de janeiro de 2019, as Forças Armadas obedecerão a ele.
Jair Bolsonaro terá nas mãos a oportunidade real e concreta de, nas palavras dele, metralhar a petralhada, de fazer as minorias se curvarem e se calarem, de bater até virar homem, de fazer o trabalho que a ditadura não fez: matar, pelo menos, uns 30 mil, de não deixar nem um milímetro de terra para os indígenas, de ver dois homens juntos na rua e bater, etc, etc, etc…
A vontade dele é pública e o apoio dos eleitores é, literalmente, um massacre.
Nós não estamos lutando contra uma hipótese. Bolsonaro não é um democrata, nunca foi. Ele nunca respeitou a democracia, está dentro dela porque não teve a oportunidade, ainda, de recuperar a derrota de 1985, ele não era o povo, ele não gritava “Diretas Já”. Não se enganem, esse ressentimento existe, por parte dele e de seus apoiadores. E nós todos, independentemente da classe, se estivermos dentro de uma minoria ou não, só temos a perder. Todos nós queremos mudanças, desde que a democracia fique. O nosso jovem sistema é o nosso maior bem, temos que lutar pelo nosso protagonismo, não existe outro caminho para o povo fora da democracia.
Me desespera saber que estamos entregando-a de mãos beijadas.