A fotografia e a verdade – Parte 1-4

Decidi teorizar a fotografia. Decidi por tentar defini-la, explica-la, achar o seu devido lugar no mundo.

Aqui meu ensaio sobre o assunto, o dividi em quatro partes para facilitar a digestão.
A Fotografia como Processo de Criação de Verdades.

 

Será a imagem fotográfica uma verdade? Há quem responda positiva ou negativamente esta questão. Aqui defenderei que para chegarmos a uma resposta, antes devemos possuir compreensão, do processo fotográfico em si, e o processo de criação de verdades ao qual ele atende.

Se quisermos opinar ou criticar algo, um jogo por exemplo, antes devemos saber as regras desse jogo, como ele é constituído, qual o seu objetivo, agentes diretos e indiretos, participantes e expectadores. Na fotografia e na ideia de verdade é a mesma coisa. Dividiremos então o título original em duas seções: 1ª Seção – A Fotografia como Processo. 2ª Seção – Processo de Criação de Verdades.

 

1ª Seção – A Fotografia como Processo

Fotografia

 

Para se entender a fotografia começaremos pela questão mais próxima, o próprio nome. A palavra fotografia, tradução de photographie em Francês, tem a sua formação na união de duas raízes em grego: fós + grafis (luz + escrita). Definindo assim um dos princípios básicos do seu processo, que é a formação de uma imagem através de radiação eletromagnética visível (a olho nú) ou não.

Enquanto a fotografia ainda era uma pesquisa, desenvolvida por vários agentes pelo mundo, inclusive no Brasil por Hercule Florance (1804-1879), ela foi submetida a vários outros nomes, decorrentes do seu processo químico ou de seus autores.

Um dos quais há destaque tanto na qualidade do seu processo, como na nomenclatura utilizada. Willian Henry Fox-Talbot (1800-1870), desenvolveu o processo de criação de uma matriz-fotográfica negativa em papel e seu processo de revelação e tiragem de cópias positivas. Definiu o processo como Calotipia, união de kalos + typos (belo + impressão, em grego). A grande consequência que deve ser observada nos dois nomes citados é de que, se considerarmos a luz como dominadora do processo, retiramos a emoção, a intenção e o sentimento do agente, o fotógrafo que domina o processo. Assume-se assim uma condição de frieza e transparência na imagem, devido a sua verossimilhança com o referente, e sua constituição cientifica, pois a fotografia nada mais é do que a união de processos físicos (controle da luz) e ou químicos ou digitais (a fixação da luz).

O termo Fotografia atende mais ao uso cientificista deste processo, em vista de obter comprovações, descrições e fatos. Pela sua agilidade e fidelidade, foi, e ainda é, aceita como prova irrefutável da existência do referente no mundo, como se a imagem que vemos fosse transparente e, “atrás” dela víssemos o próprio objeto fotografado, tal como está na imagem. Desse modo ignora-se o processo, imagina-se que fosse um processo totalmente automatizado, impessoal, imutável, matemático até, onde 2 + 2 sempre serão 4. Mas a realidade não é bem assim. A constituição física do processo tem lá as suas próprias regras e exceções, nunca haverá materialmente uma lente que corresponda matematicamente ao seu projeto. A parte química idem. Os processos químicos nunca se darão exatamente da mesma maneira, podemos é claro, controla-los, padroniza-los buscando repetir o melhor resultado. A fotografia digital, que substitui a superfície fotossensível química pela eletrônica, tem as suas variáveis facilitadas ao operador.

A Calótipia então, desse ponto de vista, atenderia melhor ao uso segundo o operador como base do processo. Ele como maestro de todas as variáveis, onde não é refém da técnica, das regras do jogo, mas seu dominante. Se por si só não pode manipular as especificidades da física na construção das objetivas (conjunto óptico), pode ele então decidir qual objetiva usar, sabendo de antemão os resultados esperados de cada modelo. Pode, e deve também, escolher muito bem o tipo de superfície sensível a utilizar. Há dezenas de modelos de “filmes” no mercado, como modelos distintos de sensores digitais que compõe os equipamentos contemporâneos. Todos com suas qualidades e limitações. Partiríamos então do pressuposto do domínio do operador sobre o processo, como ser consciente de suas variáveis e seus resultados. E então, de que exatamente se constitui este processo?

 

Continua…

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