Crônica: ” Noite do Galo Bravo” – Por João Teixeira
COISAS DO BRASIL
Crônica: ” Noite do Galo Bravo” – Por João Teixeira
Há 50 anos, em meados do século XX, a Imprensa, então o quarto poder, era influente e definia os acontecimentos em todas as áreas.
Política, economia, arte, cultura, cotidiano, a grande Imprensa – a “Imprensa burguesa” das esquerdas – realiza cobertura intensiva e extensiva.
Oferecia a melhor cobertura jornalística, informava, opinava e esclarecia a sociedade que buscava a democracia.
Igualmente nos esportes.
As editorias de Esporte e Polícia, nas quais o povão afluía, eram as melhores para a formação dos jovens repórteres da época.
As fontes policiais e esportivas rendiam as melhores manchetes e alavancavam as tiragens – e as vendas – dos jornalões e revistas em tempos de repressão e censura aos meios de comunicação.
Iniciei minha carreira jornalística como repórter esportivo, viajando pelo Brasil e as cidades do interior paulista, na cobertura diária dos grandes clubes da capital, Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo e Portuguesa de Desportos.
Neste setor apaixonante e tumultuado, no “País do Futebol”, vivi imensas alegrias e extraí algumas das melhores lições práticas.
Uma das principais: nunca confiar em dirigentes esportivos, os “cartolas” oportunistas e matreiros, as raposas sob peles de cordeiros, que manipulam e exploram a ignorância das massas em busca de riqueza – mercenários -, sexo e poder, prestígio social e político partidário.
A editora de Esportes brilhava no revolucionário Jornal da Tarde, do Grupo Estado.
O editor era Alberto Helena Júnior. Vital Bataglia, ganhador de quatro Prêmios Esso, era o subeditor. Moacir Japiassu, rigoroso copidesque. Paulo Moreira Leite. Moacir Bueno. Pedro Autran. Belmiro Sauthier. Edenilton Araújo (Lampião), parceiro de João Teixeira (Corisco). E muitos nomes mais.
O caso é que Elói Gertel, setorista do São Paulo F.C., me deu a dica antes que eu saísse para o Parque Antártica para cobrir o jogo da Portuguesa e o Santa Cruz do Recife, pela Copa Brasil.
“Pergunta para o Osvaldo Teixeira Duarte se ele vai vender o Piau para o tricolor”.
O ponta-esquerda Piau, de Getulina, estava em vias de ser negociado e corriam rumores de que andava fazendo “corpo mole” para apressar a transação.
Era a tempestade perfeita.
A Portuguesa jogava mal e perdia de 1 a 0.
No intervalo, no vestiário, lancei a pergunta que enfureceu o presidente da Lusa que dava nome ao estádio do Canindé.
“Numa hora dessas, você me pergunta se vou vender jogador?! Quer tumultuar o nosso clube?!”
O cartola que vivia me dando tapinhas nas costas, falso, dizendo que eu tinha “grande futuro”, lançou-me ás feras, os fanáticos torcedores dos Leões da Fabulosa, os morrugas que fechavam as padarias mais cedo para ir assistir aos jogos.
Fui jogado contra as paredes do vestiário, em meios aos palavrões, e saí correndo de lá antes que o pior acontecesse.
“Senta aí, garoto, escreve tudo o que aconteceu”.
A coragem e a moral de Vital Bataglia levantaram meu ânimo após a agressão que havia sofrido.
Denunciei o fato para os leitores – o boxe da manchete principal do JT:
“Lusa demite meio time”.
Marinho, Lorico, Piau, Ratinho, Sammarone e Hector Silva, todos titulares, foram demitidos, um fato inédito até então.
O editor resolveu me poupar e o repórter Lampião, muito parecido fisicamente comigo, de recebeu novas ameaças no Canindé.
“Ó cangaceiro, quer acabar com nosso time?”
“Eu sou Lampião, Corisco é o outro!”
A Imprensa passou a omitir o nome completo do cartola que agredia jornalistas: virou OTD.
Palavras-chaves: Coisas do Brasil; A Noite do Galo Bravo.