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Azar dos 30

É impossível entender o Brasil de hoje sem o estudo da História. Como podemos definir o estágio atual da democracia no Brasil, desde a queda da monarquia e a proclamação da República (1889), há exatos 132 anos? É evidente que o Estado, um dos mais ricos e poderosos do mundo, composto pelas forças da classe dominante (banqueiros, industriais, oligarcas rurais etc.) vive num planeta á parte da sociedade. O Estado cujo poder é garantido por instituições centenárias: o Exército, a Igreja e o Judiciário.

Como definiu Bauman, em nossa sociedade líquida, a situação está mais para urubu que canário: o governo finge que governa; o poder econômico finge que é governado; e o cidadão vota a cada 4 anos fingindo que acredita em alguma mudança. Os setores progressistas – estudantes, intelectuais, educadores, sindicalistas, militares, artistas etc. – que lutaram por liberdade e democracia nas décadas passadas contra a ditadura civil-militar (1964/85) foram incapazes de prever e resistir á ascensão do neofascismo no século 21.

Cada vez mais os moradores dos andares de cima do edifício social brasileiro vivem de privilégios, prerrogativas, isenções e altos salários pagos pelo Erário. Quem tem coragem de mexer no bolso de generais, almirantes, magistrados e brigadeiros? Os moradores dos andares de baixo sobrevivem como podem no País de salário mínimo. O ímpeto da oposição- esta com discurso de esquerda que governa pela direita – em sua etapa no poder sucumbiu no tsunami da corrupção que compra a tudo e a todos.

Os cidadãos de bem, a militância idealista e transformadora, expressa cada vez mais alto sua revolta nas ruas (antes da pandemia) e nas redes (anti)sociais. “…ninguém me ama, ninguém me quer…” – o povo do Brasil real poderia cantar hoje seu desamparo com o velho samba-canção de Antônio Maria. Vivemos o desencanto e o desprezo pelas instituições e com a classe política. O fato é que avançamos na democracia desde a Constituição cidadã (1985) que marcou uma importante etapa na vida do Brasil. Há três décadas, os brasileiros estão envolvidos na construção nacional.

A História faz seu retrospecto e expõe o azar dos 30 anos, um estigma, título desta crônica. Depois da ditadura de Getúlio Vargas (1937/45), o Estado Novo, que criou as bases do Brasil moderno, e de Jk, que trouxe a indústria automobilística, acabou com bondes e trens e deixou uma imensa saudade em nossos corações, os desastres se sucederam. Em 1961, Jânio Quadros, expoente do nacional-populismo e líder das massas, assumiu a presidência disposto a dar uma guinada nos rumos da nação. Condecorou o revucionário argentino-cubano Che Guevara e renunciou sete meses depois, sob pressão militar. Jango, o vice, assumiu e foi deposto no golpe civil-militar de 1964.

Em 1990, Collor de Mello, o “caçador de marajás”, chamou nossos carros de carroção, abriu a economia á competição externa, confiscou a poupança da população e foi impichado 2 anos depois. O marajá era ele. Em 2018, o azarão Bolsonaro – o Bozo – engoliu as oposições sem ter participado de um único debate e sem programa de governo. Envergonha o País no exterior e estimula a pandemia que dízima milhares de vida. A boa notícia: voltamos a estudar História. Mas não quero estar aqui em 2048. Deus nos ajude.

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