A cadela que devora suas crias

“A cadela do fascismo sempre está no cio”, afirmou o dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898-1956). Prenhe pelo ódio, o fascismo é caracterizado pela perseguição e eliminação de tudo aquilo que não seja conforme suas crenças. Não permite espaço para tolerância ou diálogo. Interessa apenas impôr seu projeto de poder em todos os espaços. Para isso, utiliza diversas estratégias, que vão da difamação de adversários, negação da História e das Ciências e ocupação de todas as posições dentro do aparato estatal, mesmo aquelas eminentemente técnicas.

Acontece que o fascismo é uma cadela furiosa, que devora suas próprias crias. Aqueles que apoiam entusiasticamente sua ascensão não estão protegidos da possibilidade de serem destruídos pelas próprias forças que ergueram.

Quem apenas votou em Bolsonaro e seus aliados por ser contra a política tradicional, vê todo tipo de negociata continuar sendo praticada no atual governo. Temos denúncias sucessivas de corrupção, acompanhadas por manobras para abafá-las. Podemos citar a gastança com cartões corporativos da Presidência, o caso das “rachadinhas”, o conflito de interesses na Secretaria de Comunicação, a suspeita de compra de votos para a “reforma da Previdência”, as relações perigosas com as milícias cariocas e a proximidade com os assassinos de Marielle Franco… O segundo ano de governo traz nada de novo, a não ser o completo descaramento de um grupo que se vê intocável, protegido pela ostensiva ocupação de cargos por apadrinhados políticos e pela inércia do STF.

Há quem diga que o problema era o viés ideológico predominante até então. É preciso explicar e re-explicar que todo grupo partidário tem uma ideologia. Com toda a tranquilidade, o governo Bolsonaro nomeia comissionados e anuncia ações fundamentadas em um evangelismo ressentido, que alardeia uma cruzada moral contra ameaças inexistentes, como o globalismo, o “kit gay” e o “marxismo cultural”.

Para a população em geral, seu direito a trabalho digno, à aposentadoria, à alimentação, moradia, transporte, entre muitos outros, vai sendo dilapidado sistematicamente. O eleitorado que apoiou o mito ou assiste embasbacado o desmonte da economia e do Estado, ou permanece acreditando em correntes de WhatsApp, agora alardeando um Brasil de maravilhas, em uma atitude totalmente desligada da realidade.

O feixe de varas que bate em “esquerdistas, comunas, petistas” é o mesmo que fustiga a todos e todas, inclusive quem votou nos Bolsonaros. A chacota mútua que um lado dirige ao outro esconde a realidade: estamos todos sendo açoitados por medidas que beneficiam apenas quem sempre esteve no poder.

Aguardar as eleições de 2022 não é uma opção. Quem acredita nisso, não entendeu o tamanho do problema que enfrentamos. O bolsonarismo, bem como os interesses financeiros e colonialistas que ele defende, não aceitará a mínima possibilidade de deixar o poder por vias democráticas. Somente a maciça mobilização popular poderá mudar o quadro. Para isso ser possível, é preciso desnudar o mal que essa forma de fascismo brasileiro está fazendo e deixar claras as diferenças de uma proposta progressista, humana e com verdadeira participação popular.

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