Os donos do Poder

por Mário Ferreira*

A leitura da obra de Raymundo Faoro, cujo título tomei emprestado para este artigo, serve para explicar os momentos terríveis pelos quais passamos. Não cabe aqui argumentar ou tentar explicar que estamos diante de um golpe.

A ruptura das regras democráticas, ainda que sempre frágeis, em nossa prática política, tem sido uma regra. E, mesmo nos raros períodos que foram respeitadas, com o desejo popular expresso em eleições relativamente livres, o núcleo efetivo de poder não se alterou. Os donos do poder seguiram detendo o controle da burocracia e dos recursos do Estado. É o que Faoro chama de “estamento burocrático”. Desde a monarquia, passando pelas ditaduras, pelos governos eleitos e até em nosso breve parlamentarismo de ocasião, o poder real não mudou de mãos, seguiu com seus donos.

Afinal, quem são os donos do poder? Com pequenas variações, dependendo da época, podemos afirmar, concordando com Faoro, que os grandes proprietários dos meios de produção são os verdadeiros detentores do poder. Assim, especialmente os que possuem grandes áreas de terras (o Brasil ainda é um país cuja economia está sedimentada na agricultura) e, mais recentemente, os rentistas, particularmente os banqueiros, são os verdadeiros detentores do poder político. Não importa que para planejar, executar e sustentar o golpe tenham se associado a setores importantes da burocracia estatal dos três poderes, sobretudo do judiciário. Não importa que o oligopólio dos meios de comunicação tenha sido o grande instrumento para propagandear o golpe e para sustentá-lo. Na verdade, essa grande mídia sempre foi dominada pelos donos do poder, seus maiores financiadores e anunciantes.

O que difere a situação política atual das demais é que, desta vez, o conluio para tomar o poder excluiu completamente as forças nacionalistas. Desde a monarquia, passando pela velha república, por Getúlio Vargas e pela ditadura militar, nunca um golpe levou ao poder uma associação tão perigosa para a nação. As forças progressistas e verdadeiramente patrióticas do Brasil, representadas por partidos políticos de esquerda, centro-esquerda e centro-direita nacionalistas, trabalhadores, empresários modernos (especialmente os pequenos e médios) e genuinamente nacionais, estudantes e movimentos sociais precisam, com urgência, reagir e estancar a atual política econômica recessiva, concentradora e entreguista implementada nos últimos meses.

Reagimos ou corremos o risco de ver o Brasil transformado em mero instrumento para gerar riquezas que não beneficiarão seu povo, mas apenas os interesses de uma verdadeira casta de privilegiados associada aos setores mais predadores do capitalismo globalizado.

Mário Ferreira é farmacêutico bioquímico, diretor do Laboratório Santa Paula
Mário Ferreira é farmacêutico bioquímico, diretor do Laboratório Santa Paula

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