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Um governo diferente, um pesadelo

Um governo diferente, um pesadelo

Um governo diferente, um pesadelo. Enquanto escrevo, ouço o senador Roberto Requião, um dos parlamentares que não têm apelido na lista da Odebrecht. Ele esbraveja, está indignado e faz uma denúncia gravíssima: “é inaceitável que o atual governo entregue para as empresas de telecomunicação um capital de 100 bilhões de dólares, em conluio com parte do senado. Um absurdo!”

Por um momento, a conversa do senador muda o rumo do que pretendo escrever. Penso melhor e vejo que não é necessário. Ia e vou, portanto, sustentar que o golpe contra a democracia no Brasil foi tramado e executado por um conjunto de forças, há muito tempo, hegemônicas no país: o parlamento, os grandes meios de comunicação liderados pela Rede Globo, os detentores do grande capital (especialmente a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – e os grandes bancos) e parte considerável do Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF).

O Sr. Temer e boa parte do PMDB e associados apenas entraram no processo para livrar a própria pele, diante das denúncias da lava jato. Mas, o objetivo central do golpe é econômico. Idealizado pelo PSDB, o novo sistema de poder pretende impor rapidamente uma economia neoliberal e pró-americana. Para isso, um conjunto de medidas vão sendo impostas a toque de caixa, entre elas a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, completamente a favor dos ricos, que deliberadamente busca destruir a educação e a saúde públicas, para criar um enorme e lucrativo mercado para a iniciativa privada.

No mesmo sentido, virá a reforma da previdência. Simultaneamente, a política externa assume viés pró-americano. Primeiro, vai o pré-sal, depois vão a Petrobras, os satélites, etc. É o mesmo modelo do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), que culminou com desemprego recorde e estagnação econômica. Estamos vivendo a pior recessão da história, e o desemprego cresce rapidamente, com todas as consequências ruins que conhecemos. Qualquer estudante de administração de primeiro ano sabe que os fatores essenciais de produção são o capital, o trabalho e os recursos naturais. Como atrair capitais, destruindo o mercado via aumento da pobreza? Como obter mão de obra qualificada sem boa educação, habitação decente e bons serviços de saúde? Mantido o atual modelo, estamos fadados, portanto, ao subdesenvolvimento. É a ponte para o abismo.

Seguiremos entregando nossos recursos naturais e transformando nosso povo, que já é pobre, em uma perigosa maioria de miseráveis. Não podemos continuar sacrificando os brasileiros ao “deus” do mercado. Portanto, tirar Temer e, em eleição indireta, entregar o poder a qualquer outro preposto, também ilegítimo, só vai agravar a crise. E é isso o que querem os ideólogos do golpe. É possível? Certamente. O preço? Interromper rapidamente a lava jato e seus desdobramentos, poupando os denunciados do Executivo, do Congresso e até dos tribunais, que sairiam ainda mais fortalecidos politicamente. Tudo, obviamente, propagandeado como mais um gesto de salvação nacional pela nossa querida grande mídia, liderada pela fantástica máquina de criar ignorantes úteis, a Rede Globo. É quase Natal. Vamos manter a esperança! Oremos!

Mário Ferreira é farmacêutico bioquímico, diretor do Laboratório Santa Paula

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