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Laudo aponta que arma de policial que matou jovem em Ourinhos não tinha defeito

Laudo aponta que arma de policial que matou jovem em Ourinhos não tinha defeito

Um laudo feito pela Polícia Militar sobre a arma usada por um policial militar durante abordagem que resultou na morte de um jovem em Ourinhos (SP) aponta que a pistola não apresentou defeito. O laudo foi entregue à Polícia Civil na sexta-feira (8). O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condeph) teve acesso aos documentos e o encaminhou à imprensa. A Polícia Civil concluiu o inquérito na quinta-feira (7) e indiciou o policial militar Luís Paulo Isidoro por homicídio doloso qualificado.

Arma não apresentou defeito, segundo laudo (Foto: Condeph / Divulgação)

Bryan Bueno, de 22 anos, foi morto no dia 9 de junho deste ano com um tiro no pescoço dentro do carro em que estava e que foi parado na abordagem policial na saída de uma feira de exposições. O soldado Luís Paulo Isidoro chegou a ser preso em flagrante, mas foi liberado e realiza trabalhos internos na Polícia Militar.

O laudo foi requisitado pela Polícia Civil no início da investigação.  De acordo com os documentos, o sistema de segurança e a trava do percussor não apresentavam irregularidades. Quanto à funcionalidade, não foi verificado defeito que possibilitasse o disparo do gatilho sem pressioná-lo. O documento é assinado por peritos da Polícia Militar. Na última nota enviada pela PM, eles informaram que foi uma fatalidade, que em nenhum momento houve a intenção policial em cometer aquele ato.

Vítima de 22 anos foi baleada ao esboçar reação

O advogado do policial que atirou e matou o jovem alegou que o disparo foi acidental e provocado por um defeito na arma, o que não foi confirmado pelo laudo da PM. O soldado  prestou depoimento à Polícia Civil na terça-feira (5). Luís Paulo não quis dar entrevista ao sair do depoimento, mas segundo o advogado dele, Osny Bueno de Camargo, afirmou também que a abordagem foi feita obedecendo às normas de conduta da Polícia Militar. “Operação padrão de quem não respeita a ordem que foi dada, que era para descer do carro. Eles desobedeceram e é assim que o policial tem que abordar, armado. É para isso que existe a polícia.”

De acordo com o Condeph, que teve acesso ao interrogatório, o policial disse ao delegado que a arma estava em posição sul, ou seja, apontada para baixo e o dedo não estava no gatilho, no entanto, a arma disparou. Ainda segundo o órgão, o policial disse também que os jovens desobedeceram a ordem de sair do carro.

Para a Polícia Civil, além de assumir o risco de matar pela forma como foi feita a abordagem, o policial também colocou em risco a vida das outras pessoas que estavam no veículo e não dando a chance de defesa de Bryan.

Policial prestou depoimento na Polícia Civil na terça-feira

Homicídio Doloso
A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte do jovem na quinta-feira. O policial militar Luís Paulo Isidoro foi indiciado por homicídio doloso qualificado, pois, de acordo com inquérito, ele assumiu o risco de matar ao abordar o jovem com arma em punho e apontada para a vítima, informou a policial.

Ainda segundo a Polícia Civil, o inquérito foi enviado ao Ministério Público que deve aceitar ou não a decisão e denunciar à Justiça.

Em nota, a PM informou que mantém a posição de homicídio culposo, sem intenção de matar, pois em nenhum momento houve a intenção policial em cometer aquele ato. Ainda segundo a nota, também não foi o caso de assumir o risco, pois deveria haver dolo em sua ação, mas não houve, foi uma fatalidade. A PM considera  como uma posição totalmente equivocada esse indiciamento da Polícia Civil.

Investigação
Segundo a Polícia Civil, ações da PM, como a tentativa de apagar o vídeo da abordagem, a lavagem do carro das vítimas e demora na entrega da arma, dificultaram as investigações. O comando da PM rebateu essas alegações.

“O veículo estava bastante ensanguentado, então eu determinei que ele fosse lavado para que os jovens pudessem ir embora com o mínimo de conforto. Mas quero deixar claro que só fiz isso após o veículo ser devidamente liberado pela perícia. Já o armamento assim que recebemos enviamos para a perícia local. O que eu acredito que está causando essa dúvida se nós apagamos ou não apagamos [as imagens] seja a incapacidade técnica de outras pessoas de extraírem esse material do equipamento, mas não apagamos nada, as imagens estão lá”, esclareceu a tenente coronel da PM, Cenise Araújo Calanans.

O local está movimentado por causa de uma feira de exposições que era realizada na época. Quatro minutos depois, uma ambulância do Samu passa com o giroflex ligado e segue em direção ao recinto onde é realizado o evento, possivelmente para fazer um atendimento. Às 2h36, o policial que fez o disparo contra Bryan aparece subindo a avenida em que os fatos ocorreram.

Um minuto depois, outro policial para o carro onde estava Bryan e quatro amigos. O primeiro policial que subiu a rua reaparece, se aproxima do carro já tirando a arma da cintura e parece fazer gestos de ameaça aos jovens e logo dispara. É tudo muito rápido. Logo em seguida os quatro ocupantes do carro saem do veículo, pelo lado do motorista. Os policiais também se afastam do carro e logo muita gente começa a se aproximar para ver o que acontecido.

Às 2h40, o vídeo mostra que os policiais param a ambulância do Samu que minutos antes tinha passado pelo local. É possível ver que eles pedem o atendimento, um dos PMs chega até abrir a porta da ambulância.

As imagens mostram ainda que o jovem teve uma parada cardiorrespiratória, porque os médicos iniciam a massagem cardíaca e durante 12 minutos os médicos tentam reanimar o jovem até que ele é levado para a ambulância. Bryan chegou a ser levado para o hospital, mas já chegou ao local morto.

As imagens foram anexadas ao inquérito que investiga o caso. A Polícia Civil também apura a informação de que policiais tentaram apagar as imagens gravadas pelas câmeras, e ainda teriam ameaçado os socorristas da ambulância. O soldado chegou a ser preso em flagrante, mas depois foi solto para responder aos inquéritos em liberdade.  A Polícia Militar alega que o tiro foi acidental, mas abriu um processo na Corregedoria para apurar a conduta do policial no âmbito administrativo.

Fonte: G1

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