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É o momento da Igreja Católica posicionar-se contra a violência

É o momento da Igreja Católica posicionar-se contra a violência

Nesta última semana, deu-se início a Campanha da Fraternidade 2018, promovida pela Igreja Católica Apostólica Romana. A Campanha da Fraternidade é realizada anualmente, sempre no período da Quaresma. Com a intenção de despertar a consciência dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema social concreto que envolve o brasileiro, em 2018, com o tema “Fraternidade e superação da violência”, a Igreja Católica apoia a conscientização contra as diversas faces deste problema.

Os índices no Brasil são assustadores. Cerca de 800 mil brasileiros foram assassinados desde o ano 2000, isso equivale a todos habitantes de uma cidade como João Pessoa. Há poucos dias, o Rio de Janeiro entrou em um estado que é reflexo do aproveitamento do clima e sensação de hostilidade e insegurança em que a população vive. Diversos setores da sociedade precisam de mudanças para a resolução dos problemas que envolvem violência, e o núcleo familiar, o qual grande parte a Igreja Católica exerce sua influência, é responsável por diversos fatores em relação aos grandes índices de violência.

O cidadão comum, trabalhador, classe média, e geralmente cristão, tem uma visão bastante distorcida sobre as causas e o que pode ser considerado violência. Em um momento em que a discussão sobre armar a sociedade é um assunto relevante e o ódio, que muitas vezes é reproduzido por imagens públicas ligadas às religiões cristãs, e está instalado no discurso de grande parte da população, é importante, que um órgão respeitado e, literalmente, capaz de doutrinar discuta as questões sobre a violência.

A Igreja Católica, sem esquecer dos princípios cristãos de igualdade, propôs para a campanha deste ano, explicar a estrutura da violência e no texto da Campanha da Fraternidade 2018, com títulos como “Processo de criminalização institucional (negligência do Estado em relação às políticas sociais; justiça punitiva)”, “Sujeitos violentados: juventude pobre e negra; povos indígenas, mulheres (feminicídio); exploração sexual e tráfico humano, mundo do trabalho” e “Violência doméstica”, demonstra preocupação com a quebra de antigos moldes de pensamento sobre a violência.

Duas premissas atendidas são importantes nesta campanha: a primeira é de que existe a falta de consciência por grande parte dos cristãos sobre a violência urbana e sobre a sua ligação com a pobreza e as desigualdades. E a segunda de que, majoritariamente, na atual realidade do Brasil, os violentadores domésticos que praticam violência física, moral e psicológica contra os filhos ou as esposas, são cristãos e, muitas vezes, católicos.

Afirmando a preocupação com a questão social que reflete na violência, o padre Luís Fernando da Silva, coordenador executivo das Campanhas da Fraternidade, relatou que “Superar a violência, em vista de uma cultura da paz, exige o enfrentamento da realidade de exclusão. Sem a justiça social não haverá superação da violência”. A preocupação com conscientizar os cristãos de que as injustiças e desigualdades da sociedade refletem diretamente na questão da violência é um grande marco para a criação de uma consciência social contra as verdadeiras causas da violência urbana e ligada à criminalidade.

Já no ambiente familiar a realidade é de maridos que batem, proíbem, ameaçam, perseguem psicologicamente as esposas e de pais e mães que usam de violência contra os filhos, desde a infância, para “educar”, por conta de seus erros, de suas escolhas, de suas contrariedades e, muito comumente, por conta de sua orientação sexual, declarando sempre estar visando o bem, ou ainda, estar seguindo princípios cristãos.

Considerando a violência doméstica, as manifestações de ódio, a falta de consciência social e também o alcance que o discurso da Igreja Católica tem, é absolutamente necessário, para a luta contra as desigualdades, o apoio e o reconhecimento à investida desta instituição contra a questão da violência no Brasil. A Campanha da Fraternidade é um grande passo na luta.

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