Funcionária que desviou milhões da prefeitura de Santa Cruz foi substituída por irmã durante gestão do ex-prefeito Mira
Cópias das portarias de nomeação de Camila já estão com a Polícia Civil. Sabe-se que os documentos contêm a assinatura do ex-secretário de Finanças, Armando Cunha, e provavelmente da própria Sueli Feitosa.
Estranhamente, Camila Souza escondeu estes fatos da polícia, ao depor em pelo menos duas ocasiões. Ela fará um novo depoimento na próxima quarta-feira, 1º de março.
O cargo de Sueli Feitosa foi, durante muito tempo, comissionado — de livre nomeação do prefeito. Hoje, é função gratificada, onde o funcionário concursado recebe um adicional para trabalhar no setor. Em todos os casos, no entanto, é necessária a autorização do prefeito municipal para o funcionário assumir o cargo. Cargo comissionado é função de confiança exclusiva do prefeito.
O estranho é que não há informações de que Camila Souza tenha conhecimentos de contabilidade como justificativa para ser nomeada como substituta da irmã. O jornal tentou informações na prefeitura, mas o prefeito Otacílio Assis (PSB) proibiu o acesso às informações e, inclusive, entrevistas de servidores à imprensa. Otacílio viajou na semana passada, em novo período de férias.
Consta, porém, que Camila era professora da prefeitura, atuando em escolas mantidas pela prefeitura. O marido dela, Adilson Gomes da Silva, está preso na penitenciária de Cerqueira César como um dos principais envolvidos no desfalque praticado pela cunhada, Sueli Feitosa, que também está presa em Pirajuí.
A descoberta de que Camila Souza era a substituta da irmã na Tesouraria reforça a tese do delegado Renato Mardegan de que Sueli Feitosa não agia sozinha e que existia uma organização criminosa que se beneficiava do desvio de dinheiro público, que a própria polícia hoje estima em mais de R$ 7 milhões.
Afinal, presume-se, com a estranha nomeação da irmã, que Sueli Feitosa tinha receio do esquema ser descoberto e, portanto, trabalhava para que alguém de sua total confiança assumisse a função durante sua ausência. Para tanto, contava com a anuência do então secretário de Finanças, Armando Cunha, e do prefeito da época, Adilson Mira (PSB).
Polícia descobriu esquema de cheques na Tesouraria
Segundo o jornal publicou na semana passada, a Polícia Civil descobriu que o setor de Tesouraria da prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo era praticamente um “balcão de negócios” envolvendo troca de cheques e empréstimos a juros. Tudo era comandado pela servidora Sueli de Fátima Feitosa. A polícia obteve esta informação através de pessoas que procuraram a delegacia de forma espontânea para “delatar” o esquema, com receio de cheques serem encontrados nos documentos da quebra do sigilo bancário, que já foi autorizada pela Justiça.
De acordo com o delegado Renato Mardegan, o esquema financeiro funcionava na própria Tesouraria, onde eventuais “clientes” de Sueli deixavam cheques com a funcionária e saíam do prédio da prefeitura com dinheiro vivo. O delegado acredita que o dinheiro usado para os empréstimos era o da própria prefeitura, desviado dos cofres municipais.
Não se sabe exatamente desde quando o esquema de empréstimos e trocas de cheques funcionava, mas a descoberta de que a irmã de Sueli, Camila Souza, foi sua substituta em determinados períodos reforça a tese de que a principal envolvida no desvio não permitia que pessoas estranhas tivessem acesso aos documentos financeiros da contabilidade.
Segundo a polícia, o próprio cunhado de Sueli Feitosa, o empresário Adilson Gomes de Souza — que está preso no presídio de Cerqueira César — utilizava o esquema de empréstimos. “Ele já contou sobre isso, mas só não sabemos se o Adilson precisava pagar a dívida à cunhada”, disse o delegado Renato Mardegan.
Pois Adilson é exatamente o marido de Camila Souza, a substituta de Sueli na Tesouraria durante o governo de Adilson Mira (PSDB).
Fonte: Debate News