Artigo: “Caverna de Platão” Por Pedro Saldida
A Alegoria da Caverna é retirada da obra de Platão “A República” e nos abre os olhos para o conhecimento verdadeiro e o governo político. Aos dias de hoje podemos afirmar que Platão retrata na íntegra a sociedade que estamos vivendo e que nós próprios criámos; Sócrates, a personagem principal, trava um diálogo com Glauco, seu interlocutor, e apresenta uma teoria platônica acerca do conhecimento da verdade e relata a necessidade que o governante da cidade tenha acesso a esse mesmo conhecimento.
Nesta metáfora podemos verificar que os prisioneiros da caverna são todos os homens comuns, cada um de nós enquanto sujeito individual, vivendo num mundo limitado, presos a crenças corriqueiras; a caverna é nada mais nada menos que nosso corpo e nossos sentidos, crentes de um conhecimento errôneo e enganoso; as sombras na parede, bem como os ecos na caverna são distorções das imagens e distorções sonoras, sombras e ecos simbolizam as opiniões erradas e o conhecimento preconceituoso do senso comum, que continuamos considerando como verdadeiro; ao sair da caverna estamos buscando o conhecimento verdadeiro e a luz solar, a luz que ofusca o prisioneiro liberto e o coloca em uma situação de desconforto, retrata o conhecimento verdadeiro, a razão e a filosofia.
O ser humano tem regredido tanto ao ponto de estar vivendo como um prisioneiro da caverna, mesmo com a quantidade de informação e conhecimento colocado à sua disposição; pensar dá muito trabalho, as pessoas têm preguiça para pensar; a preguiça intelectual é o Santo Graal dos nossos dias, mas o Santo Graal da destruição do conhecimento.Vivemos tão agarrados às redes sociais, que hoje somos uma vidraça de ego, de falsa publicidade de felicidade; a ignorância tomou conta de nós. É o tempo da opinião supérflua, da informação inútil e das masmorras cotidianas, que nos arrastam para a caverna da ignorância.
Lembrei da Alegoria da Caverna exatamente por culpa da Dengue que me pegou esta semana. Foi uma semana complicada, dura, dolorida e de resignação; só poder hidratar, tomar Dipirona e muito descanso nos fazem um boneco prostrado aguardando o fim da epidemia.
Ourinhos não receberá a vacina da Dengue tudo por causa da sub notificação, logo fruto de não ser considerado epidemia no nosso Município temos que aceitar as coisas como elas são e aguardar o fim dos sintomas tudo porque a nossa Gestão não está preocupada com a população; é mais fácil esconder que resolver.
A doença da Dengue é pior que Covid, já peguei os dois e a Dengue é horrorosa, não temos disposição, posição ou qualquer outro sentimento além de resignação e aceitação que é mesmo assim, que temos que esperar; mas mesmo que fossemos contemplados com a vacina, o que dizer sobre o laboratório escolhido para a produção da vacina; o mesmo não tem capacidade para produzir em larga escala; mas tem vacina para vender para o setor privado a um custo de R$ 390,00; para um servidor público que teve um aumento de 2,16% só tem que aceitar que ficará uma semana sem trabalhar porque pagar uma vacina no privado está fora de questão; a não ser que deixe de pagar algum bem essencial para adquirir a vacina, os dois se tornam matematicamente impossíveis.
Esta caverna em que vivemos tem o seu expoente máximo na tragédia de Rio Grande do Sul. Não podia deixar de falar sobre tal acontecimento que vitimou e dizimou o Sul de uma forma tão assustadora. O ser humano continua vivendo preso na caverna da desinformação; a culpa não morrerá solteira certamente e tem muito culpado em todo o processo; a responsabilidade recai não somente sobre governo estadual e federal, o Legislativo promove retrocessos ao falhar na adaptação e no combate às mudanças climáticas; o Legislativo conservador desmonta políticas públicas.
Ações de resposta de emergência em situações de crise não são suficientes; “imprevistos” por causa das mudanças climáticas deixaram de poder ser tratados como algo que acontece esporadicamente, tem que ser combatido e deve ser tratado antes de qualquer tragédia, tem que haver planejamento e estudo efetivo antes mesmo de uma catástrofe; devemos acima de tudo reduzir os danos antes de tragédias, não é somente reparar perdas e danos, é mitigar, é adaptar e acima de tudo precaver. Não podemos agir aquando da desgraça, temos e devemos agir para prevenir a desgraça.
Estamos em ano eleitoral e não escuto ninguém falar de desenvolvimento urbano, de prevenção; não traz votos eu sei, mas a hora de políticos mudarem seus conceitos, seus valores é esta, não somente quando desgraças acontecem; não podemos também usar de uma desgraça destas para politizar e criticar, a hora é de união, de ajuda, de luta. No espaço de seis meses uma nova catástrofe assola o Sul do País e mais uma vez ninguém nada fez, deixaram acontecer; uma farmacêutica perdeu duas vezes sua casa num espaço de seis meses, quem sobrevive emocionalmente a este fato; tudo porque existe um projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental, que permite que Estados e Municípios determinem os projetos que precisam ou não fazer uma análise de impacto; além de comprometer metas de desenvolvimento sustentável não resolve o problema da burocracia.
Tanta Universidade Federal, tanto Professor capacitado e capaz para auxiliar em matéria tão sensível mas que não é solicitado apoio porque esses vão pela Ciência e lutarão a favor da Natureza, o que vai tirar capacidade política a um ser político que nada mais busca que votos e apoio popular para chancelar a ausência de políticas públicas no nosso País. Termino com uma frase de Platão, considerado um dos principais pensadores do período antropológico da filosofia grega, nascido em Atenas, no ano de 428 a.C. e falecido no ano de 348 a.C. :
“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”
Pedro Saldida