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COISAS DO BRASIL – “Nos tempos do imperador” – Por João Teixeira

COISAS DO BRASIL – “Nos tempos do imperador” – Por João Teixeira

Meu querido amigo, jornalista Pablo Teruel, de Piraju, brinda-nos com esta deliciosa crônica de costumes dos tempos do Brasil Império (1822/1889).

Memória – O Rio de Machado de Assis

 

Há jantares em casas de família. Os homens jogam voltarete, as moças ficam a um canto, a não ser na dança , se houver. Exibem os braços, muito cobiçados.

Ha teatro e há opera, ambas de companhias estrangeiras que vêm ao Rio e Buenos Aires. O teatro com atores  brasileiros dá os primeiros passos, com Caetano de Campos .

Os homens não trabalham. Deixam-estar nas chácaras, nos arrabaldes da cidade. Quando tem patrimônio vasto, podem sonhar com uma deputada. Posses maiores podem propiciar uma senatoria. E, se tiver intensa vida partidária, seja conservador ou liberal, sonhar com um ministério, por graça do imperador.

Brás Cubas sonhava ser deputado. Os azares da política não lhe permitiram alcançar o sonho.

Homens pobres trabalham no comercio de retalho, com fazendas e roupas, importadas outras. Seus clientes são as mulheres, que frequentam a rua Direita.

: Mandam-se recados por um próprio, um escravo que leva a mensagem a casa do destinatário e espera a resposta — escritas uma e outra.

Não é raro Brás Cubas receber mensagens. “Mando esta por um próprio para vires jantar amanhã. Estará presente nosso considerado deputado Neves, que nos promete pôr a par das notícias da Corte. Não falte. Envie resposta pelo próprio que aí está.”

Homens vivem de expediente, como aluguel de escravos, escravos de ganho, arrendamento de terras. Não se trabalha por princípio, que isso é coisa de escravos, tirante profissões liberais, como advocacia e medicina, uma secretaria ministerial, uma deputação, senatoria ou —gloria dos deuses — um ministério numa reviravolta do governo.

Homens ricos oferecem almoços domingueiros, em que comparecem amigos e agregados.

Há um conto de Machado em que a glória do dono da casa é ter sido secretário substituto de ministério em função de viagem a província do Norte do titular. Ele, secretário provisório, pobre escrevente que era.

Passou o secretário provisório a dividir o tempo a contar do secretariado temporário.

Dizia: o casamento do conde de Lorena? Sim me recordo bem. A noiva, senhora Mariquinha, estava linda, dizem os que tiveram a sorte do convite à boda. Isso foi antes do meu secretariado. Não, espera, foi depois, me lembro bem, porque eu havia assinado de véspera a ordem para concessão das licenças para a procissão do Sagrado Coração, com aviso aa guarda da cidade.

Assim nos conta Machado de Assis corrida a vida no pacato Rio de Janeiro.

Machado também conta das chibatadas nos escravos que se davam no Calabouço, por ordem dos donos.

A Força de Polícia Imperial mandava para a prisão escravos encontrados na rua que não explicassem o que estavam fazendo. Ou seja, antecedente da contravenção de vadiagem e mendicância.

Também eram recolhidos presos em jogo de capoeira, considerada uma perigosa arma de revolta dos escravizados.

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