Crônica -“A humilhação da exaltada” Por João Teixeira
COISAS DO BRASIL – “humilhação da exaltada” Por João Teixeira.
Aeroporto de Congonhas. Final dos anos 50.
Nos tempos em que “São Paulo não pode parar”, na celeridade dos “50 anos em ” do governo JK, o governo dos sonhos dos brasileiros, visitar e tomar café no Aeroporto de Congonhas era um dos passeios favoritos dos paulistanos.
A subida e a descida de aviões embeveciam os olhos ingênuos de migrantes recém-chegados á maior cidade da América do Sul.
Ninguém poderia imaginar que chegaríamos ao estado a que chegamos, décadas mais tarde, em que a falta de educação e de cidadania espiritual de criaturas tensas, oportunistas e ansiosas infernizam nosso cotidiano.
Em meados do século 20, eu, menino, em companhia de meus pais, assisti á chegada da madame, nervosa, estressada, carregada de pacotes, ao balcão de embarque da extinta Vasp.
Esbaforida, proferindo impropérios sob seus magníficos óculos escuros de grife, ignorou a todos postando-se á frente da fila.
A burguesa privilegiada, acima dos cidadãos comuns, antecipava estes tempos selvagens em que a disputa (entre carros) pelo espaço urbano vital expõe o vale-tudo pela exibição e desrespeito pelo semelhante.
Armai-vos, uns aos outros!
Quem enfrenta o transporte coletivo (trem, ônibus, metrô); a fila bancária e toda e qualquer repartição pública, inclusive saúde publica, UBS, hospital, sente o drama.
O “salve-se-quem-puder” humano requer autoridade, valores, legislação dura e punição em defesa dos direitos dos cidadãos, principalmente os mais vulneráveis, mulheres, crianças e idosos.
Na fila do balcão da Vasp, a dona acordou do devaneio ao ouvir a voz suave e firme da policial feminina que observava seu comportamento infrator:
“Senhora, por favor, dirija -se ao final da fila”.
Envergonhada, bufando, a ilustre dirigiu -se ao último lugar entre as pessoas.
Óh, saudade!