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Crônica: “Fado, Fátima e Football, o Circo do Povo” Por Pedro Saldida

Crônica: “Fado, Fátima e Football, o Circo do Povo” Por Pedro Saldida

Em Portugal usamos uma frase, denominada de três efes, Fado, Fátima e Football. Muito se discute acerca de sua origem; há quem fale que surgiu após a Ditadura, após 1974, há quem defenda que existe desde o séc. XIX, que eram expressões sociais e culturais muito fortes antes do Estado Novo mas não se sabe bem; mas o que sabemos é que acabou por pegar e passou a ser uma forma de olhar e caracterizar o meu país, governado por quatro décadas por um regime ditatorial.

A melhor forma de desviar a atenção de um povo é fomentando diversões que distraiam e cativem as pessoas. Nada melhor que os três efes.

Fado, anterior à Ditadura, nasceu e cresceu nas ruas e tascas de Lisboa e Coimbra, sendo hoje património imaterial da Humanidade, declarado pela UNESCO e cujo expoente máximo foi a nossa Amália Rodrigues. O Fado está para Portugal assim como o Samba para o Brasil. É inexplicável sentar num restaurante de Lisboa, à luz de velas, comendo um caldo verde e escutando Fado. Só estando lá mesmo, nem pela televisão tem o mesmo sentimento. O Fado é a máxima representação da Alma Lusa. O Fado retrata a alma portuguesa, é uma canção de sentimentos, de emoções, em que nas letras sejam comuns temas como a perda, a resignação, a ausência. A própria palavra Fado significa destino.

Fátima, que falar desse lugar, só quem lá vai sabe e sente o que estou falando. Ir em Fátima, mesmo que a pessoa não seja católica, escutar um silêncio Celestial, escutarmos nossa respiração e conversarmos connosco   e com Deus, é coisa de outro Mundo, de um plano Superior. Fátima acaba sendo o populismo do catolicismo, é uma concentração de pessoas pobres que buscam o encontro com Deus, a redenção dos seus pecados. Tornou-se um local de culto a Nossa Senhora de Fátima em virtude das Suas 6 aparições.

Football, bom esse nem se fala, é um fenómeno popular que arrasta milhares de pessoas.

Os três efes nasceram antes do fascismo, sobreviveram ao fascismo e atingiram o seu máximo expoente na democracia.

Comparada à frase dos três efes, temos também a famosa pão e circo( panem et circenses do Latim), que serve como alerta para atitudes de governantes cujo intuito é distrair a população com distribuição de algum benefício. Esta expressão nos remete para a Roma Antiga, época em que o Imperador utilizava distrações, como comida e entretenimento, por forma a apaziguar a população.

As duas expressões são métodos utilizados por governos para distrair as pessoas dos problemas sociais. Nesse quesito os dois países são muito idênticos.

No Brasil este tipo de método tem comummente o nome de clientelismo, uma forma de conquistar a confiança da população mais vulnerável. O clientelismo é a compra de votos em eleições políticas e os governantes se aproveitam das desigualdades sociais para obter e gerar benefícios. Mas temos mais exemplos de pão e circo, como o Futebol que é o entretenimento que mais distrai os brasileiros, e temos um, que, não nos dando conta, é o mais rentável para qualquer governo. A famosa loteria, alimentada pela esperança e desejo de enriquecer por meio da sorte, leva a que nos esqueçamos dos verdadeiros problemas que causam as desigualdades. Todas estas políticas populistas levam a que a população perca o interesse em assuntos políticos, esquecendo tudo exceto a diversão.

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo.”, já dizia Bertolt Brecht, dramaturgo, poeta e encenador Alemão.

Este texto surge pela movimentação assustadora dos Vereadores da base do Prefeito de Ourinhos. Estão debandando e apresentando agora propostas contrárias aquelas que votaram a favor enquanto lacaios da Gestão; nada mais, portanto que pão e circo. Se tivessem votado contra as propostas do Prefeito na devida altura nada poderíamos sequer criticar, agora quererem aparecer quem nem salvadores e apresentarem propostas divergentes daquelas que votaram favoravelmente enquanto protetores da Gestão nos mostra a falta de vergonha na cara.

Todos estes movimentos me lembram os poleiros para aves; um poleiro de calopsita não é o mesmo indicado para um canário; o poleiro deve ser escolhido em função da sua ave. Na Natureza os pássaros repousam em galhos, que são anatomicamente diferentes, com espessuras diferentes.

No caso da política é o político que escolhe o poleiro; estar um ano sem falar sobre políticas de Saúde, Educação, Economia, Finanças, de Segurança e agora aparecer que nem um Messias é de um descaramento imensurável.

Nepotismo, aparelhismo, caciquismo sem qualquer pudor e esquecimento de políticas públicas são apanágio da política hoje praticada em todo Mundo.

A política é tão somente um status, um enriquecimento e é colocado de lado o mais importante que é ser uma pessoa que influencia a maneira e a forma como a sociedade deve ser governada; todo o homem é por natureza um ser político, como bem frisou Aristóteles.

Ano eleitoral é tão assustador que na nossa vizinha Iaras o Vice Prefeito anunciou sua candidatura a Vereador na chapa da oposição; não renunciou nem tão pouco informou que iria tomar tal postura; é um sinal claro que nunca se identificou com esta Gestão e, ao invés de trabalhar  se moveu por interesses diferentes de políticas públicas em benefício da Cidade e de seus Munícipes.

Hoje resolvi vos deixar estas minhas palavras para que as pessoas pensem muito bem em quem vão eleger; é muito fácil prometer e depois chegar no poder e nada fazer; na oposição é fácil falar, as pessoas estão livres de compromisso, agora quando chegam no poder elas se transfiguram e mostram realmente quem são.

Como sempre deixo-vos com uma frase, desta vez do General Ernesto Geisel, o quarto Presidente do regime militar, de 1974 a 1979, que coincide com a transição do regime ditatorial para o regime democrático, mas com  elevada taxa de inflação e alta da  dívida externa, e em 31 de Dezembro de 1978 revogou o AI-5, onde começa a abertura para redemocratização do nosso País:

“Se é a vontade do povo brasileiro eu promoverei a Abertura Política no Brasil. Mas chegará um tempo que o povo sentirá saudade do Regime Militar. Pois muitos desses que lideram o fim do Regime não estão visando o bem do povo, mas sim seus próprios interesses.”

 

Pedro Saldida

 

 

 

 

 

 

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